terça-feira, 11 de março de 2014

O que é ciência, o que é má ciência, o que não é ciência, o que é pseudociência, e os problemas de demarcação e delimitação, para definir umas das outras. Uma visão esclarecedora através da filosofia da ciência!



Ciência e Pseudociência



Copyright © 2014 by Sven Ove Hansson (autor do artigo)
Tradução do Inglês para o Português: Roberto das Neves

Publicado pela primeira vez em: Quarta-feira, 03 de setembro de 2008, a revisão substantiva em: Segunda-feira, 10 de fevereiro de 2014.

A demarcação entre ciência e pseudociência é parte da tarefa maior para determinar quais crenças são epistemicamente justificadas. A entrada esclarece a natureza específica da pseudociência em relação a outras formas de doutrinas e práticas não-científicas. Os principais critérios de delimitação propostas, são analisados e algumas de suas fraquezas são apontadas. Em conclusão, ressalta-se que há muito mais consenso sobre questões específicas de demarcação do que sobre os critérios gerais, que tais julgamentos devem ser baseados.

Esta é uma indicação de que, ainda há muito trabalho filosófico importante a ser feito sobre a demarcação entre ciência e pseudociência.

1. O objetivo das demarcações
2. A "ciência" da pseudociência
3. O "pseudo" da pseudociência
3.1 Não pseudociência
3.2 Não-ciência posando como ciência
3.3 O componente doutrinal
3.4 Um sentido mais amplo da pseudociência
3.5 Os objetos de demarcação
3.6 A demarcação com prazos
4. Critérios de delimitação alternativos
4.1 Os positivistas lógicos
4.2 Falsificacionismo
4.3 O critério do quebra-cabeças
4.4 Os critérios baseados no progresso científico
4,5 Normas epistêmicas
4.6 abordagens multi-criteriológicas
5. Unidade na diversidade
Bibliografia
Bibliografia da literatura, filosoficamente informado sobre pseudociências e doutrinas contestadas.

1. O objetivo das demarcações

Demarcações da ciência e da pseudociência podem ser feitas por razões teóricas e práticas (Mahner de 2007, 516). De um ponto de vista teórico, a questão de demarcação é uma perspectiva esclarecedora, que contribui para a filosofia da ciência, da mesma forma que o estudo de falácias, contribui para o estudo da lógica informal e argumentação racional.

De um ponto de vista prático, a distinção é importante para a orientação da decisão, tanto na vida privada quanto na pública. Desde que a ciência é a nossa fonte mais confiável de conhecimento em uma ampla variedade de áreas, é preciso distinguir o conhecimento científico de seus sósias. Devido ao elevado status da ciência na sociedade atual, as tentativas de exagerar o status científico de várias reivindicações, ensinamentos e produtos, são comuns o suficiente, para fazer a questão de demarcação, urgentemente em muitas áreas. A questão de demarcação é importante em muitas aplicações práticas, tais como os seguintes:

Saúde: A ciência médica desenvolve e avalia os tratamentos de acordo com a evidência de sua eficácia. Atividades pseudocientíficas nesta área dão origem a intervenções ineficazes e às vezes perigosas. Os profissionais de saúde, seguradoras, autoridades governamentais, e o mais importante, os pacientes, precisam de orientação sobre como distinguir entre ciência médica e pseudociência médica.

Testemunho de especialista: É essencial para o Estado de direito, que os tribunais obtenham os fatos de forma correta. A confiabilidade dos diferentes tipos de provas, deve ser determinada corretamente, e prova pericial, deve ser baseada no melhor conhecimento disponível. Às vezes, é do interesse dos litigantes, para apresentar alegações não científicas como a ciência sólida. Portanto, tribunais devem ser capazes de distinguir entre ciência e pseudociência. Os filósofos muitas vezes, tiveram papéis de destaque na defesa da ciência contra a pseudociência em tais contextos. (Hansson 2011)

As políticas ambientais: Para estar no lado seguro contra possíveis desastres, pode ser legítimo, para tomar medidas preventivas, quando há evidência válida, mas ainda insuficiente de um perigo ambiental. Este deve ser distinguido de: tomar medidas contra um suposto perigo para o qual não há nenhuma evidência válida em tudo. Por isso, os tomadores de decisão na política ambiental, devem ser capazes de distinguir entre afirmações científicas e pseudocientíficas.

A educação científica: Os promotores de algumas pseudociências (nomeadamente criacionismo) tentam introduzir seus ensinamentos nos currículos escolares. Os professores e autoridades escolares precisam ter critérios claros de inclusão, que protejam os alunos contra os ensinamentos pouco confiáveis ​​e refutados.

O trabalho sobre o problema da demarcação parece ter diminuído após Laudan (1983) uma certidão de óbito muito notável, segundo a qual, não há esperança de encontrar um critério de algo necessário e suficiente tão heterogêneo quanto a metodologia científica. Em anos mais recentes, o problema foi revitalizado. Filósofos atestando sua vitalidade sustentam que, o conceito pode ser esclarecido por outros meios que não uma definição necessária e suficiente (Pigliucci 2013; Mahner 2013) ou, que tal definição é de fato possível, embora tenha de ser complementado com os critérios específicos de cada disciplina, a fim de tornar-se pleno em funcionamento. (Hansson 2013)

2. A "ciência" da pseudociência

O mais antigo uso conhecido da palavra "pseudociência" data de 1.796, quando o historiador James Pettit Andrew se refere à alquimia como uma "fantástica pseudo-ciência" (Dicionário de Inglês Oxford). A palavra está em uso frequente desde a década de 1880. "Ao longo de sua história, a palavra tem um significado claramente difamatório” (Laudan 1983, 118; Dolby 1987, 204). Seria tão estranho para alguém descrever orgulhosamente suas próprias atividades como pseudociência, como vangloriar-se de que eles são má ciência. Desde a conotação pejorativa é uma característica essencial da palavra "pseudociência", uma tentativa de libertar uma definição livre de valor do termo, não seria significativa. Um termo essencialmente carregado de valor tem que ser definido em termos de valor carregado. Este é muitas vezes difícil, uma vez que, a especificação do componente de valor tende a ser controverso.

Este problema não é específico da pseudociência, mas segue diretamente a partir de um problema paralelo, mas, um pouco menos visível, com o conceito de ciência. O uso comum do termo "ciência" pode ser descrito como: parte descritiva e parte normativa. Quando uma atividade é reconhecida como ciência, geralmente isso envolve um reconhecimento de que, ele tem um papel positivo nos nossos esforços para o conhecimento. Por outro lado, o conceito de ciência, foi formado através de um processo histórico, e muitas contingências influenciaram o que chamamos e não chamamos ciência.

Neste contexto, a fim de não ser excessivamente complexa a definição de ciência, ela tem que ir, em uma de duas formas. Ela pode se concentrar no conteúdo descritivo, e especificar como o termo é usado realmente. Como alternativa, pode-se concentrar no elemento normativo, e esclarecer o significado mais fundamental do termo. A última abordagem tem sido a escolha da maioria dos filósofos que escrevem sobre o assunto, e vai estar em foco aqui. Ela envolve, necessariamente, algum grau de idealização, em relação ao uso comum do termo "ciência".

No Inglês, a palavra "ciência", é principalmente usada sobre as ciências naturais e outras áreas de pesquisa, que são consideradas para ser semelhantes a eles. Assim, a economia política e a sociologia são contadas como ciências, ao passo que, os estudos de literatura e história geralmente não são. A correspondente palavra alemã "Wissenschaft" tem um significado muito mais amplo e inclui todas as especialidades acadêmicas, incluindo as ciências humanas. O termo alemão tem a vantagem de delimitar, de forma mais adequada, o tipo de conhecimento sistemático que está em jogo, no conflito entre ciência e pseudociência. 

As deturpações da história apresentadas por negadores do Holocausto e outros pseudo-historiadores, são muito semelhantes em sua origem, para as deturpações das ciências naturais promovidas pelos criacionistas e homeopatas.

Mais importante ainda, as ciências naturais, sociais e as humanas, são todas partes de um mesmo esforço humano, ou seja, sistemática e investigações críticas, visando adquirir a melhor compreensão possível do funcionamento da natureza, das pessoas e da sociedade humana. As disciplinas que compõem esta comunidade de disciplinas de conhecimento são cada vez mais interdependentes (Hansson 2007). Desde a segunda metade do século 20, as disciplinas integradoras, como a astrofísica, biologia evolutiva, bioquímica, ecologia, química quântica, as neurociências, a teoria dos jogos, e tem-se desenvolvidas a uma velocidade dramática, e contribuiu para amarrar juntas as disciplinas previamente desconectadas. Este aumento de interconexões, também ligaram as ciências e as humanidades mais próximas umas das outras, como pode ser visto, por exemplo, como o conhecimento histórico, depende cada vez mais, da análise científica avançada sobre achados arqueológicos.

O conflito entre a ciência e a pseudociência é mais bem compreendido com este sentido amplo da ciência. De um lado do conflito, encontramos a comunidade de disciplinas de conhecimento, que inclui as ciências naturais, sociais e as humanas. Por outro lado, encontramos uma grande variedade de movimentos e doutrinas, como o criacionismo, a astrologia, a homeopatia, e a negação do Holocausto, que estão em conflito com os resultados e métodos, que são geralmente aceitos na comunidade de disciplinas de conhecimento.

Outra maneira de expressar isso é que, o problema da demarcação, tem uma preocupação mais profunda, do que a de demarcar a seleção das atividades humanas, que temos por vários motivos, escolhido para chamar de "ciências". A questão final é "como determinar quais crenças são epistemicamente justificadas" (Fuller 1985, 331).

3. O "pseudo" da pseudociência

3.1 Não pseudociência

As frases "de demarcação da ciência" e "de demarcação da ciência de pseudociência", são muitas vezes usadas ​​como sinônimos, e muitos autores parecem ter considerado, como iguais em significado. Em suas opiniões. A tarefa de desenhar os limites exteriores da ciência é essencialmente, a mesma que, a de desenhar a fronteira entre ciência e pseudociência.

A imagem é muito simplificada. Todos os não-ciência, não é pseudociência e, a ciência tem fronteiras não-triviais, para outros fenômenos não-científicos, tais como a metafísica, a religião e vários outros tipos de conhecimento sistematizados como não-científica. (Mahner (2007, 548) propôs o termo "paraciência", para cobrir as práticas não científicas, que não são pseudocientíficas.) A ciência tem também, o problema de demarcação interna, de distinguir entre a boa e a má ciência.

Uma comparação entre os termos negados, relacionados com a ciência, pode contribuir para esclarecer as distinções conceituais. "Unscientifc" é um conceito mais restrito do que o "não-científico" (e não científica), já que, o primeiro, mas não o último termo, implica alguma forma de contradição ou conflito com a ciência. "Pseudocientífica" é por sua vez, um conceito mais restrito do que o "não científico". O último termo difere do anterior, na cobertura das medidas inadvertidas, erros de cálculo e outras formas de má ciência, realizada por cientistas que são reconhecidos como tentando, mas não produzindo boa ciência.

A Etimologia nos fornece um ponto de partida óbvio para esclarecer quais as características a pseudociência tem, além de ser meramente não ciência, ou não-científica. "Pseudo-" (ψευδο-) significa falso. De acordo com isso, o Dicionário de Inglês Oxford (OED) define pseudociência como se segue:

"A pretensa ciência ou espúria; um conjunto de crenças relacionadas sobre o mundo erroneamente considerado como sendo baseado em método científico ou, como tentando ter o status que as verdades científicas têm agora."
3.2 A Não-ciência posando como ciência

Muitos escritores sobre a pseudociência têm enfatizado que: pseudociência não é ciência posando como ciência. O clássico moderno, acima de tudo, sobre o assunto (Gardner 1957) traz o título “Modismos e Falácias em nome da ciência”. De acordo com Brian Baigrie (1988, 438), "[w] uma cobertura censurável sobre essas crenças, é que: eles mascaram seus protegidos, como genuinamente científicos." Estes e muitos outros autores, assumem que, para ser pseudocientífica, uma atividade ou um ensinamento, tem de satisfazê-lo, seguindo dois critérios (Hansson, 1996):

(1)          não é científico, e
(2)          seus principais defensores tentam criar a impressão de que é científico.

O primeiro destes dois critérios é fundamental para as preocupações da filosofia da ciência. Tem sido objeto de controvérsias importantes entre os filósofos (que será discutido a seguir, na Seção 4). O segundo critério, é filosoficamente menos importante, mas ele precisa receber um tratamento cuidadoso, não menos importante, uma vez que, muitas discussões de pseudociência (dentro e fora da filosofia) têm sido confundidas, devido a pouca atenção a ela.

3.3 O componente doutrinal

Um problema imediato, com a definição baseada em (1) e (2) é que, é muito ampla. Há fenômenos que satisfazem ambos os critérios, mas, não são comumente chamadas de pseudocientíficas. Um dos exemplos mais claros disso é fraude na ciência. Esta é uma prática, que tem um alto grau de pretensão científica, e ainda, não está de acordo com a ciência, satisfazendo, assim, ambos os critérios. No entanto, a fraude, em ramos de outro modo legítimos da ciência, é raramente, se alguma vez o foi, chamada de "pseudociência". A razão para isto pode ser esclarecida com os seguintes exemplos hipotéticos (Hansson, 1996).

Caso 1: Um bioquímico realiza um experimento, que ele interpreta como: mostrando que uma determinada proteína, tem um papel essencial na contração muscular. Há um consenso entre os seus colegas, que o resultado é um mero artefato, devido a um erro experimental.

Caso 2: Um bioquímico continua realizando um experimento desleixado após o outro. Ele consistentemente interpreta como: mostrando que uma determinada proteína tem um papel na contração muscular, não aceito por outros cientistas.

Caso 3: Um bioquímico realiza vários experimentos desleixados em diferentes áreas. Um deles,  a experiência referida no caso 1. Muito do seu trabalho é da mesma qualidade. Ele não propaga qualquer teoria não ortodoxa particular.

De acordo com o uso comum, 1 e 3 são considerados como casos de má ciência, e apenas 2 como um caso de pseudociência. O que está presente no caso 2, mas ausente nos outros dois, é uma doutrina desviante. Isolados incumprimentos das exigências da ciência, não são comumente considerados como pseudocientífica. A pseudociência, como é comumente concebida, envolve um esforço sustentado, para promover ensinamentos diferentes daqueles que têm legitimidade científica na época.

Isso explica por que a fraude na ciência não é geralmente considerada como pseudocientífica. Tais práticas não são, em geral, associadas a uma doutrina desviante ou heterodoxa. Ao contrário, o cientista fraudulento, está ansioso para que seus resultados estejam de acordo com as previsões das teorias científicas estabelecidas. Desvios deles levá-las-iam lá, a um risco muito maior de divulgação.

O termo "ciência" tem tanto uma individualização e um sentido “unindividuated”. (No sentido individualizado), bioquímica e a astronomia são diferentes ciência s, uma das quais, inclui estudos de contração muscular e outro, estudos de supernovas. O Dicionário de Inglês Oxford (OED) define este sentido da ciência como "um determinado ramo do conhecimento ou estudo; um departamento reconhecido de aprendizagem". No sentido “unindividuated”, o estudo de proteínas musculares e de supernovas, são partes de "uma e a mesma" ciência. Nas palavras do OED, ciência “unindividuated” é o tipo de conhecimento, ou atividade intelectual, de que, as várias "ciências” "são exemplos".

A pseudociência é uma antítese da ciência não individualizada, ao invés do sentido “unindividuated”. Não há, corpus unificado de pseudociência correspondente ao corpus da ciência. Para um fenómeno ser pseudocientífico, deve pertencer a uma ou a outra das pseudociências particulares. A fim de acomodar esta característica, a definição acima pode ser modificada, substituindo (2) pelo seguinte (Hansson, 1996):

(2 ')        é parte de uma doutrina não-científica, cujos proponentes importantes, tentam criar a impressão de que é científica.
A maioria dos filósofos da ciência, e a maioria dos cientistas, preferem considerar a ciência, como constituída por métodos de investigação, e não por particulares doutrinas. Há uma tensão evidente entre (2 ') e esta visão convencional da ciência. Isso, no entanto, pode ser como deveria, desde pseudociência, muitas vezes, envolve uma representação da ciência como uma doutrina fechada e acabada, e não como uma metodologia de investigação em aberto.

3.4 Um sentido mais amplo da pseudociência

Algumas vezes o termo "pseudo" é utilizado no sentido mais amplo do que aquele que é capturado na definição constituída de (1) e (2 '). Ao contrário do que (2 '), as doutrinas que estão em conflito com a ciência, às vezes são chamadas de "pseudocientífica" apesar de não ser, ou ter, avançado como científica.

Assim, Grove (1985, 219) incluídos entre as doutrinas pseudocientíficas, aquelas que "pretendem oferecer visões alternativas aos da ciência, ou, a pretensão de explicar o que a ciência não pode explicar." Da mesma forma, Lugg (1987, 227-228) sustentou que "as  previsões por clarividência são pseudocientíficas, ou, não estão corretas ", apesar do fato de que, a maioria dos clarividentes não professam ser praticantes da ciência. Nesse sentido, a pseudociência é assumida para incluir não apenas doutrinas contrárias à ciência proclamadas a ser científica, mas doutrinas contrárias à ciência “tout court”, ou, não são apresentadas em nome da ciência. Para cobrir este sentido mais amplo de pseudociência, (2 ') pode ser modificado como se segue (Hansson 1996, 2013):

(2 ")       é parte de uma doutrina, cujos proponentes tentam criar a impressão de que, ele representa o conhecimento mais confiável no seu assunto.

O uso comum, parece vacilar entre as definições (1) + (2 ') e (1) + (2 "), e isso, de uma forma interessante: em seus comentários sobre o significado do termo, os críticos da pseudociência tendem a endossar um definição perto de (1) + (2 '), mas a sua utilização efetiva é muitas vezes mais perto de (1) + (2 ").

Os exemplos seguintes servem para ilustrar a diferença entre as duas definições e também para esclarecer por cláusula (1) é necessária:

Um livro criacionista dá um relato correto da estrutura do DNA.
Um livro de química, de outra forma confiável, dá conta incorreta da estrutura do DNA.
Um livro criacionista, nega que as partes de espécies humanas ancestrais, são comuns com outros primatas.
Um pregador que nega que a ciência pode ser confiável, também nega que as partes de espécies humanas ancestrais são comuns com outros primatas.
(A) não satisfaz (1), e não é, portanto, pseudocientífica por sua conta. (B) satisfaz (1), mas nem (2 '), nem (2 ") e não é, portanto, pseudocientífica por sua conta. (C) satisfaz todos os três critérios, (1), (2 ') e (2 "), e por isso é pseudocientífica em ambas as contas. Finalmente, (d) satisfaz (1) e (2 ") e é, portanto, pseudocientífica de acordo com (1) + (2"), mas não é de acordo com (1) + (2 '). Como os dois últimos exemplos ilustram, pseudociência e anti-ciência, são às vezes, difíceis de distinguir. Promotores de algumas pseudociências (nomeadamente homeopatia) tendem a ser ambíguos entre oposição à ciência e afirmar que eles próprios representam o melhor da ciência.

3.5 Os objetos de demarcação

Várias propostas foram apresentadas sobre o que exatamente são os elementos em ciência ou pseudociência, critérios de demarcação devem ser aplicados. As propostas incluem que, a demarcação deve referir-se a um programa de pesquisa (Lakatos 1974a, 248-249), um campo epistêmico ou disciplina cognitiva, ou seja, um grupo de pessoas com conhecimento comum aos objetivos e suas práticas (Bunge 1982, 2001; Mahner 2007), uma teoria (Popper 1962, 1974), uma prática (Lugg 1992; Morris, 1987), um problema científico ou pergunta (Siitonen 1984), e um inquérito específico (Kuhn, 1974; Mayo 1996). É provavelmente justo, dizer que os critérios de demarcação podem ser significativamente aplicados, em cada um destes níveis de descrição. Um problema muito mais difícil é se, um desses níveis, é o nível fundamental para que, as avaliações sobre os outros níveis são redutíveis.

Derksen (1993) difere da maioria dos outros escritores, sobre o assunto de: colocar a ênfase na demarcação no pseudocientista, ou seja, o indivíduo conduzindo pseudociência. Seu principal argumento para isso é que, a pseudociência tem pretensões científicas, e tais pretensões são associadas com uma pessoa, não uma teoria, prática ou campo inteiro. No entanto, como foi observado por Settle (1971), é a racionalidade e a atitude crítica construída em instituições, ao invés de os traços intelectuais pessoais dos indivíduos, que distingue a ciência de práticas não-científicas como a magia. O indivíduo praticante de magia em uma sociedade pré-letrada, não é necessariamente, menos racional do que o cientista, indivíduo na sociedade ocidental moderna. O que lhe falta é um ambiente intelectual da racionalidade coletiva e crítica mútua. "É quase uma falácia da divisão, insistir que cada cientista individualmente seja criticamente disposto” (Settle 1971, 174).

3.6 A demarcação com prazos

Alguns autores sustentam que a demarcação entre ciência e pseudociência, deve ser atemporal. Se isso fosse verdade, então, seria contraditório para rotular algo como pseudociência em um, mas não outro ponto no tempo. Por isso, depois de mostrar que o criacionismo é, em alguns aspectos, semelhante a algumas doutrinas do início do 18º século, um autor sustentou que "se tal atividade era descritível como a ciência, então, não é um motivo de descrevê-la como a ciência" (Dolby 1987, 207). Este argumento baseia-se num equívoco fundamental da ciência. É uma característica essencial da ciência que metodicamente se esforça para melhorar, através de testes empíricos, a crítica intelectual, e na exploração de novos terrenos. Um ponto de vista ou teoria, não pode ser científico, a menos que, se relaciona de forma adequada a este processo de melhoria, o que significa, no mínimo, que as rejeições bem fundamentadas de pontos de vista científicos anteriores são aceitos. A demarcação da ciência não pode ser atemporal, pela simples razão de que, a própria ciência não é intemporal.

No entanto, a mutabilidade da ciência é um dos fatores a que presta a demarcação entre ciência e pseudociência, difícil. Derkson (1993, 19) justamente, salientou três principais razões pelas quais, a demarcação às vezes é difícil: a ciência muda ao longo do tempo, a ciência é heterogênea, e da própria ciência estabelecida, não está livre dos defeitos característicos de pseudociência.

4. Critérios de delimitação alternativos

As tentativas de definir o que hoje é a ciência, têm uma longa história, e as raízes do problema da demarcação, remontam a Aristóteles (Posterior Analytics) (Laudan 1983). No entanto, não foi até o 20 º século, que as definições influentes da ciência, têm contrastado contra a pseudociência.

4.1 Os positivistas lógicos

Por volta de 1930, os positivistas lógicos do Círculo de Viena, desenvolveram diversas abordagens verificacionistas para a ciência. A ideia básica era que: uma afirmação científica poderia ser distinguida de uma declaração metafísica, por ser, pelo menos em princípio, possível de verificar. Este ponto de vista foi associado com a visão de que o significado de uma proposição é o seu método de verificação (veja a seção sobre Verificacionismo na entrada no Círculo de Viena ). Esta proposta tem sido frequentemente incluída nas contas da demarcação entre ciência e pseudociência. No entanto, isso não é historicamente muito preciso, já que as propostas verificacionistas tinham o objetivo de resolver um problema de demarcação bem diferente, ou seja, entre a ciência e a metafísica.

4.2 Falsificacionismo

Popper descreveu o problema da demarcação, como: a "chave para a maioria dos problemas fundamentais da filosofia da ciência" (Popper 1962, 42). Ele rejeitou a verificabilidade como critério para uma teoria científica ou hipótese, de ser científica ao invés de pseudocientífica ou metafísica. Em vez disso, ele propôs como critério, que a teoria é falsificável ou falseável, ou mais precisamente, que "declarações ou sistemas de declarações, a fim de serem classificados como científico, devem ser capazes de entrar em conflito com possíveis ou imagináveis ​​observações" (Popper 1962, 39).

Popper apresentou esta proposta como uma maneira de traçar a linha entre as declarações pertencentes às ciências empíricas e "todas as outras declarações  - sejam elas de um religioso, ou de um caráter metafísico, ou simplesmente pseudocientífico" (Popper 1962, 39; cf Popper 1974. , 981). Era tanto uma alternativa para critérios de verificação dos positivistas lógicos, quanto um critério para a distinção entre ciência e pseudociência. Apesar de Popper não enfatizar a distinção, estes são naturalmente duas questões diferentes. ( Bartley) (1968). Popper admitiu que as declarações metafísicas podem ser "longe de ser sem sentido" (1974, 978-979), mas não mostrou tal apreciação das demonstrações pseudocientíficas.

O critério de demarcação de Popper tem sido criticado, tanto para a exclusão de ciência legítima (Hansson 2006) quanto para algumas pseudociências, o status de ser científica (Agassi 1991; Mahner de 2007, 518-519). Estritamente falando, o seu critério exclui a possibilidade de que, pode haver uma alegação pseudocientífica que é refutável. De acordo com Larry Laudan, (1983, 121), ele: "tem a consequência perversa do consentimento, como científica”, a cada reivindicação de nivelamento que torna “aceitável, afirmações falsas". A astrologia, justamente feita por Popper, como um exemplo extraordinariamente claro de ser ela uma pseudociência, tem de fato, sido testada e completamente refutada (Culver e Ianna 1988; Carlson 1985). Da mesma forma, as principais ameaças ao status científico da psicanálise, outro de seus principais alvos, não vêm de reivindicações que é intestável, mas, a partir de alegações de que ela foi testada e falhou nos testes.

Defensores de Popper têm afirmado que essa crítica se baseia em uma interpretação inclemente de suas ideias. Eles afirmam que ele não deve ser interpretado no sentido de que a falseabilidade é uma condição suficiente para demarcar a ciência. Algumas passagens parecem sugerir que ele a toma como apenas uma condição necessária (Feleppa 1990, 142). Outras passagens sugerem que, para uma teoria ser científica, Popper requer (além de falseabilidade) que as tentativas energéticas sejam feitas para colocar uma teoria em teste, e que, os resultados negativos dos testes são aceitos (Cioffi 1985, 14-16). Um critério de demarcação com base em falsificação, que inclui estes elementos, vai evitar os mais óbvios contra-argumentos sobre um critério baseado na falseabilidade sozinha.

No entanto, no que parece ser a sua última declaração de sua posição, Popper declarou que falseabilidade é tanto uma necessidade e um critério suficiente. "A frase (ou uma teoria) é empírico-científica, se e somente se é falsificável". Além disso, ele enfatizou que a falseabilidade referida aqui, "só tem a ver com a estrutura lógica de sentenças e classes de sentenças" (Popper [1989] 1994, 82). A sentença (teórica), diz ele, é falsificável se e somente se ela contradiz logicamente algumas sentenças (empíricas) que descrevem logicamente um possível evento, que seria logicamente possível observar (Popper [1989] 1994, 83). A declaração pode ser falsificável, nesse sentido, embora não seja na prática possível falsificá-la. Parece seguir a partir desta interpretação, que o status de uma declaração como científica ou não-científica, não muda com o tempo. Em ocasiões anteriores, ele parece ter interpretado a falseabilidade de forma diferente, e sustentou que "o que era uma ideia metafísica de ontem, pode se tornar amanhã, uma teoria científica testável, e isso acontece com frequência" (Popper 1974, 981, 984 cf.).

Falseabilidade Lógica é um critério muito mais fraco do que falseabilidade prática. No entanto, mesmo falseabilidade lógica pode criar problemas em demarcações práticas. Popper, uma vez adotada a visão de que, a seleção natural não é uma teoria científica adequada, argumentando que ela chega perto de, apenas dizendo que "os sobreviventes sobrevivem", que é tautológica. "O darwinismo não é uma teoria científica testável, mas um programa de pesquisa metafísica" (Popper 1976, 168). Esta afirmação tem sido criticada por cientistas evolucionistas que apontaram que ele deturpa a evolução. A teoria da seleção natural tem dado origem a muitas previsões que resistiram a testes, tanto em estudos de campo quanto em laboratório (Ruse 1977; 2000).

Em uma palestra em Darwin College em 1977, Popper retratou sua visão anterior de que a teoria da seleção natural é tautológica. Ele admitiu que agora ela fosse uma teoria testável, apesar de "difícil de testar" (Popper 1978, 344). No entanto, a despeito de sua retratação bem fundamentada, seu ponto de vista anterior, continua sendo propagado em desafio as evidências acumuladas, a partir de testes empíricos da seleção natural.

4.3 O critério de quebra-cabeças

Thomas Kuhn é um dos muitos filósofos para quem, a visão de Popper sobre o problema da demarcação, era um ponto de partida para o desenvolvimento de suas próprias ideias. Kuhn criticou Popper para a caracterização de "todo o empreendimento científico, em termos que se aplicam apenas as suas ocasionais peças revolucionárias" (Kuhn 1974, 802). O foco de Popper sobre falsificações das teorias levaram a uma concentração nos casos raros, em que, em vez toda uma teoria que está em jogo. Segundo Kuhn, a maneira na qual a ciência funciona em tais ocasiões, não pode ser utilizado para caracterizar toda a atividade científica. Em vez disso, está em "ciência normal", a ciência que tem lugar entre os momentos incomuns de revoluções científicas, onde encontramos as características pelas quais, a ciência pode ser diferenciada de outros empreendimentos (Kuhn 1974: 801).

Na ciência normal, a atividade do cientista, consiste em resolver quebra-cabeças, em vez de testar teorias fundamentais. Nos quebra-cabeças, a teoria atual é aceita, e o quebra-cabeça é de fato, definido em seus termos. Na visão de Kuhn, "é a ciência normal, em que, tipos de testes de Sir Karl não ocorrem, ao invés de, a ciência extraordinária, que a maioria quase distingue a ciência de outras empresas", e, portanto, um critério de demarcação deve referir-se ao funcionamento da ciência normal (Kuhn 1974, 802). O próprio critério de demarcação de Kuhn é a capacidade de quebra-cabeças, que ele vê como uma característica essencial da ciência normal.

A visão de Kuhn de demarcação é mais claramente expressa em sua comparação da astronomia com a astrologia. Desde a antiguidade, a astronomia tem sido uma atividade de resolução de quebra-cabeças e, portanto, uma ciência. Se a previsão de um astrônomo falhasse, então este era um quebra-cabeça que ele poderia esperar para resolver, por exemplo, com mais medidas ou com os ajustes da teoria. Em contraste, o astrólogo não tinha tais quebra-cabeças já que em que a disciplina "fracassos particulares não deram origem a enigmas a pesquisar, pois nenhum homem, porém hábil, poderia fazer uso deles em uma tentativa construtiva de rever a tradição astrológica" (Kuhn 1974 804). Portanto, de acordo com Kuhn, a astrologia nunca foi uma ciência.

Popper desaprovou completamente o critério de demarcação de Kuhn. De acordo com Popper, astrólogos estão envolvidos na resolução de quebra-cabeças, e, consequentemente, o critério de Kuhn compromete-o a reconhecer a astrologia como uma ciência. (Ao contrário de Kuhn, Popper definiu os enigmas como "pequenos problemas que não afetam a rotina".) Em sua opinião, a proposta de Kuhn leva à "catástrofe de grandes proporções" de uma "substituição de um critério racional da ciência por um sociológico" (Popper 1974, 1146-1147).

4.4 Os critérios baseados no progresso científico

O critério de demarcação de Popper, diz respeito à estrutura lógica das teorias. Imre Lakatos descreveu este critério como "um tanto surpreendente”. A teoria pode ser científica, mesmo se não há um pingo de evidências a seu favor, e pode ser pseudocientífica, mesmo que todas as evidências disponíveis seja há seu favor. Ou seja, o caráter científico, ou não científico, de uma teoria, pode ser determinado de forma independente dos fatos “(Lakatos 1981, 117)”.

Em vez disso, Lakatos (1970, 1974a; 1974b; 1981) propôs uma modificação do critério de Popper, que ele chamou de "sofisticado (metodológico) falsificacionismo". Nesta visão, o critério de demarcação não deve ser aplicado a uma hipótese isolada ou teoria, mas sim, para um programa de pesquisa do todo, que é caracterizada por uma série de teorias substituindo sucessivamente uns aos outros. Em sua opinião, um programa de pesquisa é progressivo, se as novas teorias fazem previsões surpreendentes que estão confirmadas. Em contraste, um programa de pesquisa em degeneração é caracterizado por teorias sendo fabricadas apenas com o fim de acomodar os fatos conhecidos. O progresso na ciência, só é possível, se um programa de pesquisa atende ao requisito mínimo, que cada nova teoria que é desenvolvida no programa, tem um conteúdo empírico maior do que seu antecessor. Se um programa de pesquisa não satisfaz este requisito, então é pseudocientífica.

De acordo com Paul Thagard, uma teoria ou disciplina é pseudocientífica, se satisfaz dois critérios. Uma delas é que, a teoria não consegue progredir, e a outra que "a comunidade de praticantes, faz poucas tentativas de desenvolver a teoria para soluções dos problemas, não mostra nenhuma preocupação com as tentativas de avaliar a teoria, em relação as outras, e é seletiva ao considerar as confirmações e não considerar as desconfirmações "(Thagard 1978, 228). Uma das principais diferenças entre a sua abordagem e a de Lakatos é que, Lakatos classificaria uma disciplina não progressiva como pseudocientífica, ainda que seus praticantes trabalhem duramente, para melhorá-la e transformá-la em uma disciplina progressiva.

Em uma veia semelhante, Daniel Rothbart (1990) enfatizou a distinção entre as normas a serem utilizadas ao testar uma teoria, e os que a utilizam para determinar se uma teoria deve em tudo ser testada. No último, os critérios de elegibilidade, que incluem a teoria, devem encapsular o sucesso do número de motivos, da sua rival, e que, devem produzir implicações testáveis, ​​que são incompatíveis com as da rival. De acordo com Rothbart, uma teoria é científica se for fidedignamente testável neste sentido.

George Reisch propôs que a demarcação poderia basear-se na exigência de que, uma disciplina científica deve estar devidamente integrada nas outras ciências. As várias disciplinas científicas têm interligações fortes que são baseadas em metodologia, a teoria, a semelhança dos modelos, etc. Criacionismo, por exemplo, não é científica, porque os seus princípios e crenças básicas são incompatíveis com aqueles que se conectam e unificam as ciências. De um modo geral, diz Reisch, um campo epistêmico é pseudocientífico, se não puder ser incorporado na rede existente de ciências estabelecidas (Reisch 1998;. Cf Bunge 1982, 379).

4,5 Normas epistêmicas

Uma abordagem diferente, ou seja, os critérios de demarcação, com base sobre o valor da ciência, foi proposta pelo sociólogo Robert K. Merton ([1942] 1973). De acordo com Merton, a ciência é caracterizada por um "etos", que pode ser resumido como: quatro conjuntos de imperativos institucionais. A primeira delas, o universalismo, afirma que quaisquer que sejam suas origens, reivindicações de verdade devem ser submetidas a critérios pré-estabelecidos, impessoais. Isto implica que, a aceitação ou rejeição dos pedidos, não devem depender das qualidades pessoais ou sociais de seus protagonistas.

O segundo imperativo, o comunismo, diz que, os resultados substantivos da ciência, são os produtos de colaboração social e, portanto, pertencem à comunidade, ao invés de ser propriedade de indivíduos ou grupos. Isto é, como Merton apontou, é incompatível com as patentes que reservam direitos exclusivos de uso para inventores e descobridores. O termo "comunismo" é um pouco infeliz, "comunalidade" provavelmente capta melhor o que Merton visa.

Seu terceiro imperativo, o desinteresse, impõe um padrão de controle institucional que se destina a reduzir os efeitos de motivos pessoais ou ideológicos que os cientistas individuais possam ter.
O quarto imperativo, organizado ceticismo, implica que a ciência permite a análise isolada de crenças, que são ternamente detidas (embaladas) por outras instituições. Isto é, o que às vezes, coloca a ciência em conflito com religiões e outras ideologias.

Merton descreveu esses critérios como pertencentes à sociologia da ciência, e, assim como as declarações empíricas sobre as normas em ciência real, em vez de declarações normativas sobre como a ciência deve ser conduzida (Merton [1942] 1973, 268). Seus critérios foram muitas vezes rejeitados pelos sociólogos como simplistas, e eles só tiveram influência limitada em discussões filosóficas sobre a questão de demarcação (Dolby 1987; Ruse, 2000). O seu potencial no último contexto, não parece ter sido suficientemente explorado.

4.6 abordagens multi-criteriológicas

O método de demarcação de Popper consiste essencialmente, de um único critério de falseabilidade (embora alguns autores queiram combiná-lo com os critérios adicionais, os testes que são efetivamente realizados e seus resultados respeitados (positivos), ver a Secção 4.2). A maioria dos outros critérios discutidos acima são igualmente mono-criteriais, e é claro, a proposta de Merton, sendo uma grande exceção.

A maioria dos autores que propuseram critérios de delimitação, pelo contrário, apresentou uma lista de tais critérios. Um grande número de listas publicadas, que consistem em (normalmente 5-10) critérios que podem ser utilizados em combinação, para identificar uma ou mais pseudo práticas pseudocientificas. Isso inclui listas de Langmuir ([1953] 1989), Gruenberger (1964), holandês (1982), Bunge (1982), Radner e Radner (1982), Kitcher (1982, 30-54), Hansson (1983), Grove ( 1985), Thagard (1988), Glymour e Stalker (1990), Derkson (1993, 2001), Vollmer (1993), Ruse (1996, 300-306) e Mahner (2007). Muitos dos critérios que aparecem em tais listas se relacionam intimamente com os critérios acima discutidos nas seções 4.2 e 4.4. Tal lista é a seguinte:

A crença na autoridade: Argumenta-se que alguma pessoa ou pessoas, têm uma habilidade especial para determinar o que é verdadeiro ou falso. Os outros têm que aceitar seus julgamentos.

Experiências irrepetíveis : A confiança é colocada em experimentos que não podem ser repetidos por outros com o mesmo resultado.

Exemplos escolhidos a dedo: exemplos escolhidos a dedo são usados, embora eles não sejam representativos da categoria geral de que a investigação se refere.

Falta de vontade de teste: Uma teoria não é testada, embora seja possível testá-la.

Desconsideração da informação refutada : Observações ou experiências que entram em conflito com a teoria são negligenciados.

Subterfúgio embutido: O teste de uma teoria é de tal forma que, a teoria só pode ser confirmada, nunca refutada, com o resultado.

As explicações são abandonadas sem substituição. Explicações defensáveis são dadas acima, sem serem substituídas, de modo que, a nova teoria, deixa muito mais inexplicada, do que a anterior. (Hansson, 1983)

Alguns dos autores que propuseram demarcações multicriteriais, têm defendido esta abordagem, como sendo superior a qualquer demarcação mono-criterial. Por isso, Bunge (1982, 372) afirma que muitos filósofos não conseguiram fornecer uma definição adequada da ciência, uma vez que, já pressupunha que um único atributo vai, em sua opinião, possuir a necessária a combinação de vários critérios. Dupré (1993, 242) propôs que a ciência é mais bem entendida como: um conceito de semelhança familiar de Wittgenstein. Isto significa que, há um conjunto de características que são característicos da ciência, mas, nem toda  parte da ciência, terá algumas destas características, não devemos esperar que qualquer parte da ciência tenha todos eles.

No entanto, uma definição multicriterial da ciência não é necessária para justificar uma conta multicriterial de como a pseudociência desvia da ciência. Mesmo que a ciência possa ser caracterizada por uma única característica definidora, diferentes práticas pseudocientíficas podem desviar-se da ciência, de formas muito divergentes. Assim, a caracterização de sete itens, acima mencionada de pseudociência, foi proposta como representando sete maneiras comuns, para se desviar de um mínimo (necessário, mas não suficiente) critério da ciência, a saber: A ciência é uma busca sistemática de conhecimento, cuja validade não depende de determinado indivíduo, mas sim, é aberto para que todos possam verificar ou redescobrir.

5. Unidade na diversidade

Kuhn observou que, apesar de seus próprios critérios e os de  Popper, na demarcação, são profundamente diferentes, eles levam a essencialmente as mesmas conclusões, sobre o que deve ser considerado como ciência, e respectivamente como pseudociência (Kuhn 1974, 803). Esta convergência de critérios de delimitação teoricamente divergentes é um fenômeno bastante geral. Filósofos e outros teóricos da ciência diferem amplamente em suas opiniões sobre o que é ciência. No entanto, há praticamente unanimidade na comunidade de disciplinas de conhecimento, na maioria das questões particulares de demarcação. Existe um consenso generalizado, por exemplo, que o criacionismo, a astrologia, a homeopatia, a fotografia Kirlian, a radiestesia, a ufologia, a teoria do antigo astronauta, a negação do Holocausto, o catastrofismo Velikovsky, e a mudança climática, são delineados como pseudociências. Existem alguns pontos de controvérsia, por exemplo, sobre o estatuto da psicanálise freudiana, mas, o quadro geral é de consenso, em vez de controvérsia, em questões específicas de demarcação.

É em certo sentido paradoxal, sobre como foi alcançado tanto acordo, em questões específicas, apesar do desacordo quase total, sobre os critérios gerais que estas decisões deverão ser presumivelmente baseadas. Este quebra-cabeça é uma indicação segura de que ainda há muito trabalho filosófico importante a ser feito, sobre a demarcação entre ciência e pseudociência.

A reflexão filosófica sobre a pseudociência, tem trazido outras áreas problemáticas interessantes, além da demarcação entre ciência e pseudociência. Exemplos incluem demarcações relacionadas, tais como, entre ciência e religião, a relação entre a ciência e o conhecimento não-científico confiável (para conhecimento cotidiano por exemplo), a possibilidade de simplificações justificáveis, ​​em educação científica e da ciência popular, a natureza e a justificação do naturalismo metodológico na ciência (Boudry et al 2010), e o sentido ou de sentido, do conceito de um fenômeno sobrenatural. Várias dessas áreas problemáticas não receberam ainda, muita atenção filosófica.



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quarta-feira, 5 de março de 2014

Ideologias, eu não quero uma pra viver... Não quero, ou melhor, não preciso!


Ideologias, eu não quero uma pra viver...

Não quero, ou melhor, não preciso!

Texto criado por: Roberto das Neves



Quem são os verdadeiros inimigos?


Um país, um estado é, em última instância, uma empresa.

E toda empresa, só funciona, só cresce, só gera lucro para os seus sócios, se for administrada com competência por profissionais gabaritados, com formação acadêmica e experiência trabalhista de sucesso.

E nesse sentido, nós, o povo desse país, somos os sócios desse estado, somos os seus acionistas que, através de nossos impostos, pagos religiosamente todo ano, esperamos que esse estado, essa empresa, gere lucros em benefício de todos os cidadãos.

Lucro esse, gerado e transformado por nossos impostos, em benefícios para toda a população, através de saúde, educação, segurança, justiça, transporte e infraestrutura, para que o país se desenvolva cada vez mais e torne-se um país de primeiro mundo, ou melhor, uma empresa de primeiro mundo que lucra e gera benefícios para todos os cidadãos, seus acionistas de fato.

Nenhuma empresa sobrevive, alcança o sucesso e gera lucro para seus acionistas, se ela é administrada por incompetentes sem formação profissional ou sem experiência administrativa, ela quebra, entra em falência e fecha.

O país só não entra em falência, só não fecha, porque continuamos a injetar dinheiro nele todos os anos, através de nossos impostos.

Ao longo de séculos, surgiu um câncer na sociedade humana, e a esse câncer, damos o nome de Política.

E o político é um incompetente administrativo e profissional por natureza, e ciente da sua incompetência, usa, para manter-se no cargo, que deveria ser preenchido por profissionais gabaritados, o seu único dom, o dom da oratória.

Um político jamais conseguiria ocupar um cargo administrativo em uma empresa séria, pois, uma empresa séria, escolhe a dedo os profissionais que nela trabalharão.

Como um político geralmente não tem formação profissional, formação escolar e experiência trabalhista administrativa mínima, o político não pode ocupar um cargo nessa empresa, afinal, os sócios dessa empresa buscam profissionais competentes para nela trabalhar, para que a empresa gere lucro para seus acionistas.

Mas, acontece que, são muitos políticos, nos mais variados partidos e ideologias, para ocupar os poucos cargos para administrar um país.

E a solução que eles criaram para tentar ocupar esses cargos, foi a criação de ideologias político/partidárias.  
Criaram partidos de direita, centro e esquerda, e cada uma delas, criou um inimigo imaginário a ser combatido através de suas oratórias.

E sua oratória é baseada em hipóteses criadas especificamente para o fim à que se destinam: usar o povo como massa de manobra, para conquistar votos e serem eleitos, e assim, ocuparem os cargos que eles cobiçam, uma vez que, somente assim, eles podem ocupar esses cargos, sem ter a mínima competência administrativa, trabalhista e experiência.

Uma vez alcançado o cargo, o político então, monta seu curral eleitoral, para manter-se nesse cargo.

Ele cria empregos não necessários para o país, para que seus apoiadores continuem a apoiá-lo, sugando 
assim, os impostos que deveriam ser utilizados para o país crescer e evoluir, em benefício de toda a população.

As empresas estatais assim incham cada vez mais a cada ano, sugando cada vez mais o dinheiro advindo dos impostos, tornando-se ineficientes gigantescas, lerdas e incompetentes.

Mas isso não é suficiente, é preciso manter uma parcela do povo em contínua luta contra um inimigo inexistente e imaginário, ou criando novos inimigos inexistentes para ludibria-los, escondendo de suas vistas, quem são os verdadeiros inimigos, eles mesmos, os políticos.

Além disso, para manter-se em seu cargo, é preciso vez ou outra, mandar esmolas para o povo, travestida de benefícios, para manter seu curral eleitoral em suas garras, fazendo-os crer que essa esmola é um avanço social, fazendo-os crer que esse dinheiro, essa esmola, foi dinheiro arrancado desses inimigos imaginários, sem nunca ter sido. Esse dinheiro vem dos impostos pagos por todos nós, os cidadãos, os acionistas da empresa Brasil.

Você pode argumentar que nem todos os políticos são assim. Concordo, mas, os políticos honestos, são aqueles que conquistam um cargo, tentam lutar contra esse sistema e, não conseguindo, vão até o fim de seu mandato, da maneira mais honesta e digna possível e depois, nunca mais tentam se eleger, saem da vida política, pois descobrem como os políticos “profissionais” e suas ideologias, realmente são.

Abram seus olhos, o político é uma casta que não é a favor do povo, nunca foi. Ele apenas usa o povo que ele ludibria, para manter-se em seu cargo, pois, se tentasse ocupar um cargo de forma legal, honesta e correta, ou seja, concursada, ele jamais conquistaria tal cargo, pois não tem formação, competência e experiência, para tal.

Os funcionários públicos são sim, nossos empregados e devemos exigir dos funcionários administradores, que, através de sua administração, o país gere lucro em benefício de toda a população.

Então, precisamos substituir a casta política, eliminar os cargos políticos, pois, ao longo de toda a história de nosso país, essa casta, seja ela de qual doutrina ideológica professe, demonstrou ser falha e incompetente.
Independente de qual partido conquiste o poder, já obtivemos provas incontestes de que eles jamais foram a solução, mas sim, o verdadeiro problema do nosso país não tornar-se rico em benefício de toda a população.

Entra partido, sai partido, e os problemas continuam existindo, nunca encontram a solução, e não encontram a solução, por dois motivos: são incompetentes como administradores e não querem realmente encontrar soluções, pois, acham mais fácil, criar currais eleitorais para se manterem no poder, impedindo que outros partidos ocupem seus lugares na administração.

São incompetentes lutando para não serem substituídos por outros incompetentes.

Mas, qual seria a solução para colocar o país nos trilhos do desenvolvimento e geração de riqueza para toda a população?

A solução é muito simples:

Para que uma pessoa exerça um cargo como presidente, governador ou prefeito, essa pessoa deverá participar de concurso público, onde ele demonstrará sua competência e experiência administrativa. Através de concurso público, selecionaremos os profissionais mais gabaritados para ocuparem esses cargos.

E, estes profissionais que serão escolhidos, poderão ser sumariamente demitidos, quando demonstrarem não serem eficientes no cargo que conquistaram e substituídos por outros profissionais concursados.

Os cargos políticos não necessários para a administração, como por exemplo: vereadores, deputados e senadores, serão extintos, pois, para administrar um país, não há necessidade nenhuma de ideologias partidárias, elas já demonstraram ao longo de centenas de anos a sua ineficiência e não precisamos delas para absolutamente nada.

Uma administração profissional, não precisa de ideologias políticas para tornar o país lucrativo para toda a população.

Toda a população é acionária do país, e como acionária, será beneficiária da riqueza gerada por um país bem administrado profissionalmente e não ideologicamente.

Chega de políticos, não precisamos deles e de suas ideologias, precisamos é de soluções permanentes, coisa que eles jamais ofereceram ou oferecerão.










quarta-feira, 5 de fevereiro de 2014

A respeito de revoluções: teoria da relatividade e a história da ciência

A respeito de revoluções: teoria da relatividade e a história da ciência

Autor: Gildo Magalhães

Em nossas universidades fazem falta bons cursos de história da física, química e de outras ciências em geral, para formar os respectivos alunos de graduação. Longe das construções que se repetem enfadonhamente nos livros-textos, a história da ciência mais interessante é aquela viva, que interpreta e merece atenção dos pesquisadores exatamente porque problematiza os métodos e “fatos”, trazendo reflexões relevantes para os dias de hoje.



O interesse por parte dos alunos é indicativo de que há uma enorme demanda reprimida por discussões desse teor – ou seja, os físicos por exemplo, gostariam de discutir mais os fundamentos de sua teoria quântica, ou os biólogos gostariam de debater os conceitos filosóficos, os vínculos políticos e culturais que se introjetaram na formulação original da seleção natural ou posteriormente na teoria sintética da evolução. E se constata, infelizmente, pois é uma reclamação geral, que esses temas nunca foram apresentados por seus professores como o que são, isto é, hipóteses com maior ou menor capacidade de responder a perguntas sobre como é o universo em que estamos vivendo.

São portanto teorias que podem estar respondendo bem aos testes a que foram submetidas, algumas há anos e outras há séculos, sem que se possa, porém, garantir que jamais serão substituídas por outras, que lhes sejam complementares ou que até sejam no momento consideradas opostas às idéias aceitas pela maioria. Tais possibilidades não implicam o ceticismo total, ou o desprezo pelas teorias atuais, pois sabemos que elas constituem um patamar comum para o homem se relacionar de maneira racional e bem sucedida, com o universo. O que se quer enfatizar é que não há nem nunca houve verdades absolutas.

Ora, se o conflito é inerente às teorias científicas, o surgimento de discordâncias internas é uma das características para se definir o que é ciência. A ciência se distingue pela generalização do conhecimento, e não pela particularização, ela é uma tentativa de generalização historicamente situada, com fatores de sucesso, embora sempre com algumas incompletudes ou imperfeições. Uma generalização absoluta seria inconcebível, pois seria a explicação final, o fim da ciência enquanto uma busca de conhecimento.

O século XVIII testemunhou as revoluções americana e francesa, enquanto que no século XIX ocorreram, com grande repercussão, os movimentos populares europeus de 1848 e a Comuna de Paris, em 1871, em que o proletariado fez ouvir sua voz. Costuma-se referir a esse período e até o início do século XX, com a revolução soviética, como uma era de revoluções políticas e sociais.

Diferentemente das revoluções sociais, as transformações científicas se dão de forma muito mais lenta. Embora seja útil desmistificar noções tais como de “revolução industrial” ou “revolução científica”, é certo que também nas ciências houve mudanças notáveis nesse período de mais ou menos cento e cinqüenta anos a partir da independência dos EUA. Nessa época ocorreu a renovação da hipótese atômica e a descoberta da periodicidade dos elementos da química, foi desenvolvida a física matemática básica da atualidade, a criação da teoria dos conjuntos infinitos por Cantor e muitos outros empreendimentos notáveis. Foram mudanças que resultaram da contribuição de inúmeras pessoas em diferentes locais, mas seria negar o papel fundamental do indivíduo se desprezássemos a contribuição de cada cientista ao processo, como os trabalhos fundamentais de Ampère, Fresnel, Gauss, Riemann ou Cantor, por exemplo.

A linguagem musical desse período passou também por mudanças “revolucionárias”, e em particular o melhor exemplo disso é o da música de Beethoven, altamente apreciada e praticada por grandes cientistas que transformaram a física do século XIX naquilo que hoje conhecemos, como foi o caso de Max Planck e Albert Einstein, músicos amadores mas talentosos. É na música de Beethoven que aparece com muita clareza a apresentação de “contradições” na melodia, que criam o “novo”, inicialmente mantendo a tensão com o antigo, numa elaboração avançada dos princípios da fuga e do contraponto. O conflito se resolve de forma a criar uma nova harmonia com o existente, e quando menos se espera, Beethoven nos dá a inovação evolutiva, que suplanta o que se apresentara antes, em analogia estreita com o que se pode descrever para o processo da razão científica na criação de teorias.

Um exemplo importante desse movimento é a teoria de Einstein da relatividade, no início do século XX. Esta teoria surgiu de estudos que Einstein fez das obras de física matemática de Weber e Riemann (inclusive de sua geometria não euclidiana), além da história da ciência exposta por Mach, bem como da filosofia de Espinosa. Observe-se ainda que houve mais de uma “teoria da relatividade” na época, com pelo menos uma de interesse ainda atual, que é a de Lorentz. A relatividade de Einstein se divide na chamada teoria restrita, em que aplica os raciocínios de Galileu sobre o movimento relativo às cargas elétricas, e a sua teoria geral, em que se concentra sobre a gravidade e questões cosmológicas de nosso universo.

Os interesses fundamentais de Einstein eram o de interpretar a física e procurar nela uma unidade fundamental, não se limitando ao aspecto experimental e matemático usual. Isto se evidenciou mesmo antes da formulação de sua teoria da relatividade, como em seus estudos de partículas coloidais em líquidos (movimento browniano) e a aplicação da quantização da energia à luz, em suas hipóteses sobre o efeito fotoelétrico. Nessas áreas Einstein amadureceu seus pensamentos, conseguindo publicar seus três artigos “revolucionários” em 1905.

Bem, ao contrário do que muitos imaginam, a teoria da relatividade de Einstein embora bastante aceita não é irrefutável. A exemplo de todas as teorias científicas, ela criou “instabilidades” na teoria que acabaram sendo resolvidas, ao mesmo tempo que despertou novas discordâncias. Exemplos disso são as perguntas que surgem em congressos sobre os fundamentos da física: existe ou não um “éter”? A velocidade da luz é constante, já que tem havido diversas experiências para refutar os resultados de Michelson-Morley? O que é a gravidade? A julgar pela literatura científica mais crítica sobre tais assuntos, ainda não é possível dar respostas irrevogáveis a respeito da exatidão e dos limites da teoria da relatividade de Einstein.

Causa espécie entre os cientistas que não conhecem a história das ciências citar esse grande debate mundial que cerca as teorias restrita e geral da relatividade, debate cuja existência se pretende até desmentir. Sem contar a discussão inicial do começo do século XX, envolvendo Einstein, Poincaré e Lorentz. Na atualidade mais próxima de nossa época podem-se citar diversos autores relevantes que estão trabalhando sobre o assunto. O físico canadense Paul Marmet, em seu Einstein’s theory of relativity versus classical mechanics (1998), procura demonstrar que são supérfluos os princípios da relatividade einsteiniana para explicar a contração e dilatação do espaço-tempo e o avanço do periélio de Mercúrio. Estes são fenômenos que segundo o autor se deixam explicar perfeitamente bem com a mecânica não relativística. Um ponto considerado basilar para o história da comprovação da relatividade é a pretendida deflexão da luz pelo campo gravitacional do sol, e Marmet faz uma análise crítica da precariedade dos dados coletados com essa finalidade nas expedições do eclipse solar de 1919, inclusive a de Sobral, no Ceará.

Há uma longa e ignorada tradição de desconfiança com relação aos resultados obtidos ao final do século XIX sobre o que seria a constância da velocidade da luz, evidente com as novas investidas pelo físico americano Dayton Miller (entre1925-26) para provar que a experiência de Michelson-Morley dá resultados diferentes do que aquilo que se aprende nos livros-textos. Outro autor que se dedicou ao assunto é Joseph Levy, que tem trabalhado na França para demonstrar que a velocidade da luz não é o limite superior assumido pela teoria da relatividade convencional. Objeções desse porte têm sido objeto de diversas publicações, como por exemplo os trabalhos reunidos pelo renomado físico italiano Franco Selleri – e que se podem consultar em Fundamental questions in quantum physics and relativity (mais antigo, de 1993, mas não menos relevante).

Como último exemplo em torno do debate sobre a relatividade, há o exaustivo trabalho que vem sendo empreendido desde a década de 1980 pelo físico experimental e economista francês (prêmio Nobel em 1988) Maurice Allais sobre a referida experiência de Michelson-Morley. Allais retomou esse tema, refinando bastante as bases experimentais, para concluir que tais resultados eram afinal questionáveis, daí resultando a publicação de sua obra recente L’anisotropie de l’espace (1997).

Nada disto nos autorizaria a dizer que Einstein estava errado, pois há experiências cruciais propostas para tirar tais dúvidas que ainda não foram realizadas a contento. Tampouco essa questões tiram o mérito da fecunda e inovadora obra do influente cientista e pensador que foi Einstein. Certamente ele foi muito engenhoso ao criar suas teorias mas manter uma abertura para discutir o assunto é difícil dentro da comunidade científica, que se revela muito conservadora. Por outro lado, ignorar esse embate de concepções, ou omiti-lo quando se o conhece, é muito estranho num ambiente formador de cultura. A impressão é mesmo de que no fundo se desconhece a história – e quem não conhece história incorre em erros mais facilmente.

As publicações citadas e muitas outras que se poderia mencionar no caso da relatividade servem pelo menos para atestar que até “fatos” são passíveis de tratamento idiossincrático. Temas científicos serem também matéria de opinião constitui algo salutar e não execrável. Poderíamos também perguntar se muitos de nossos professores não deveriam passar por um auto-exame de consciência, indagando se nunca em seu foro íntimo tiveram dúvidas quanto ao que é consensual em seu campo – e trágico seria se de fato nunca as tiverem tido.

Por esses motivos e para fazer melhor justiça a um cientista do porte de Einstein é que todos deveríamos apreciar o que alguém como Max Planck diz em seu Convite à física: “Para um teórico realmente digno do nome, pode-se dizer de passagem que nada poderia ser mais interessante do que um fato que vai contra uma teoria até então tida como sólida; para ele, o trabalho real começa nesse ponto”.

Gildo Magalhães é professor de História da Ciência na USP.


Vocês sabiam que Louis Essen, criador dos relógios atômicos, classificou a teoria da relatividade como fraude ou piada?:






Contestação aos dados hafele Keating:




sexta-feira, 31 de janeiro de 2014

A medição do tempo (por Henri Poincaré – 1898)

A medição do tempo (por Henri Poincaré – 1898)


Desde que não abandonemos os domínios da consciência, a noção do tempo é bastante clara. Não só distinguimos sem qualquer esforço a sensação presente das lembranças de sensações passadas ou da previsão de sensações futuras mas sabemos perfeitamente quando queremos dizer quando afirmamos que, de dois fenómenos conscientes dos quais nos recordamos, um é anterior ao outro, isto é, entre dois fenómenos conscientes previstos, um será anterior ao outro.

Quando dizemos que dois acontecimentos conscientes são simultâneos, queremos dizer que se interpenetram profundamente, um no outro, de tal forma que uma análise não os poderá apartar sem os destruir.

A ordem segundo a qual apreendemos os fenómenos conscientes não é arbitrária. É-nos imposta e não a podemos alterar.

Tenho uma observação a adendar. Para que um conjunto de sensações seja uma lembrança susceptível de ser classificada de acordo com o tempo, é necessário que deixe de ser actual, que nós tenhamos perdido o senso da sua infinda complexidade sem a qual se manteria actual. É necessário que tenha – por assim dizer – cristalizado em torno dum centro de associações de ideias que se comporte como uma espécie de etiqueta. É, todavia, somente quando estas se perdem que podemos classificar as nossas lembranças no tempo, como um botânico organiza no seu herbário as flores secas.

Mas estas etiquetas são em número finito. Tendo isto em conta, o tempo psicológico será descontínuo. Donde provém este sentimento de que, entre dois quaisquer instantes, existem sempre outros dois instantes? Classificamos as nossas lembranças temporalmente mas sabemos que restam espaços em branco. Como poderia ser se o tempo não fosse uma forma pré-existente nas nossas mentes? Como saberíamos que existem espaços em branco, se estes não nos são revelados pelo seu conteúdo?

Mas não é tudo. Nesta forma, queremos ir não somente aos fenómenos da nossa consciência mas àqueles cujo palco é de outras consciências. Ainda mais, queremos considerar os fenómenos físicos, aqueles, não sei quais, no espaço que habitamos e de que nenhuma consciência se apercebe directamente. É extremamente necessário porque, sem elas, a ciência deixava de existir. Resumindo em uma palavra, é-nos fornecido o tempo psicológico e nós queremos construir o tempo científico e físico. É aqui que a dificuldade começa, ou antes, as dificuldades, pois nos deparamos com duas.

Eis duas consciências que são como impenetráveis uma sobre a outra. Como fazê-las entrar no mesmo molde, medi-las com a mesma bitola? Não é o mesmo como se quiséssemos medir com um grama ou pesar com um metro? Sabemos, porventura, que um feito é anterior a outro, mas não o quanto.

Daí, duas dificuldades:

1.       Podemos transformar o tempo psicológico, que é qualitativo, num tempo quantitativo?

2.       Podemos reduzir a uma mesma medida os acontecimentos que se passam em mundos diferentes?

A primeira dificuldade já foi notada há muito tempo, foi tema de longas discussões e podemos dizer que a questão está resolvida. Não temos a intuição directa da igualdade de dois intervalos de tempo. Aqueles que crêem possuir essa intuição são vítimas de uma ilusão.

Quando digo que do meio-dia à uma hora, passou o mesmo tempo que das duas às três horas, que sentido tem essa afirmação?

A menor reflexão mostra que não traz sentido algum por ela mesma. Ela terá o sentido que lhe quero dar, por uma definição que comporta um certo grau de arbitrariedade. Os psicólogos poderiam viver sem esta definição. Os físicos e os astrónomos não o poderiam. Vejamos como o contornaram.

Para medir o tempo, servem-se do pêndulo e admitem, por definição, que todos os batimentos do pêndulo têm igual duração. Mas não deixa de ser uma primeira aproximação. A temperatura, a resistência do ar, a pressão barométrica fazem variar o movimento do pêndulo. Se nos escapássemos a estas causas de erro, obteríamos uma melhor aproximação, mas continuava a ser uma aproximação. As novas causas, desprezadas até agora, eléctricas, magnéticas ou outros vêm trazer pequenas perturbações.

Em efeito, os melhores relógios devem ser corrigidos de tempos em tempos e as correcções deverão ser feitas com base nas observações astronómicas. Actuamos de modo que o relógio sideral marque a mesma hora quando a mesma estrela passa o meridiano. Por outras palavras, é o dia sideral, isto é, a duração da rotação da Terra que é a unidade constante do tempo. Admitimos, por uma nova definição, substituindo aquela aferente aos batimentos dum pêndulo, que os movimentos de rotação da Terra em torno do seu eixo têm a mesma duração. No entanto, os astrónomos não se contentam com esta definição. Alguns entre eles pensam que as marés actuam como um freio sobre o nosso globo e que a rotação da Terra se torna cada vez mais lenta. Assim se explica a aceleração aparente do movimento da lua que parece mover-se mais rápido do que a teoria prevê porque o nosso relógio, que é a Terra, se retarda.

Tudo isso pouco importa, dizemos. Sem dúvida, os nossos instrumentos de medida são imperfeitos, mas é suficiente que possamos conceber um instrumento perfeito. Este ideal não pode ser atingido, mas será suficiente ter-se concebido e ter-se trazido rigor na definição da unidade de tempo.

O pior é que este rigor não se pode encontrar. Quando nos servimos do pêndulo para medir o tempo, qual é o postulado que admitimos implicitamente?

É que a duração de dois fenómenos idênticos é a mesma. Ou se preferirmos, que as mesmas causas demoram o mesmo tempo a produzir os mesmos efeitos.

Eis, numa primeira abordagem, uma boa definição da igualdade de duas durações. Analisemo-la, então. Será possível que a experiência venha um dia a desmentir o nosso postulado?

Eu explico-me. Suponho que, num certo ponto do mundo, se passa o fenómeno α produzindo como consequência, ao fim dum intervalo de tempo, o efeito α’. Num outro ponto do mundo muito afastado do primeiro, passa-se o fenómeno β que traz como consequência o efeito β’. Os fenómenos α e α’ são simultâneos e o mesmo se pode dizer dos efeitos β e β’.

Numa época ulterior o fenómeno α reproduz-se em circunstâncias muito idênticas e, simultaneamente, o fenómeno β também se reproduz num ponto muito afastado do mundo e , aproximadamente, nas mesmas circunstâncias.

Os efeitos α’ e β’ também se vão reproduzir. Suponho que o efeito α’ se dará sensivelmente antes do evento β’. Se a experiência nos proporcionasse um tal espectáculo, o nosso postulado seria desmentido.

Contudo, a experiência mostra-nos que a primeira duração αα‘ é igual à primeira duração ββ’ e que a segunda duração αα‘ é mais pequena que a segunda duração ββ’. Pelo contrário, o nosso postulado exigiria que as duas durações αα‘ fossem iguais entre elas e o mesmo teria de acontecer para as duas durações ββ’. A igualdade e desigualdade deduzidas da experiência serão incompatíveis com as duas igualdades tiradas do postulado.

Ora, podemos afirmar que as hipóteses que eu apresentei são absurdas? Elas não trazem nada em contrário ao princípio da contradição. Sem dúvida, elas não podem ser alcançadas sem que o princípio da razão suficiente pareça ser violado. Mas para justificar uma definição tão fundamental, prefiro uma outra garantia.

No que concerne à realidade física, uma causa não produz um efeito, mas uma variedade de causas distintas contribuem para a sua produção sem que possamos discernir o papel de cada uma delas. Os físicos procuram fazer esta distinção mas apenas a fazem aproximadamente e jamais a farão senão aproximadamente. É apenas aproximadamente que o movimento do pêndulo depende unicamente da atracção da Terra mas tendo em conta todo o rigor, até a atracção de Sirius actua sobre o pêndulo.

Nestas condições, é claro que uma causa que produz um certo efeito numa determinada altura, apenas aproximadamente voltará a repetir.

Então devemos modificar o nosso postulado e a nossa definição.

Em vez de dizer: as mesmas causas demoram o mesmo tempo a produzir os mesmos efeitos.

Deveremos dizer: as causas aproximadamente idênticas demoram aproximadamente o mesmo tempo a produzir aproximadamente os mesmos efeitos.

A nossa definição é apenas aproximada.

Então, como o fez notar Calinon na sua recente memória (Études sur les diverses grandeurs; Paris Gauthier-Villars, 1897): uma das circunstâncias dum fenómeno qualquer é a velocidade de rotação da Terra. Se esta velocidade varia, ela constitui, na reprodução desse fenómeno, uma circunstância diferente. Mas supor essa velocidade constante, é o mesmo que supor que sabemos medir o tempo.

A nossa definição não é satisfatória. É certamente aquela que o astrónomo, que atrás citei, adopta implicitamente, quando afirma que a rotação da Terra se vai alentando.

Que sentido tem, nas suas palavras, esta afirmação? Não o poderemos compreender se não analisarmos as provas que nos fornecem sobre as suas proposições.

Dizem que a fricção das marés produz calor e deve destruir as forças vivas (energia cinética). Invocam o princípio das forças vivas ou da conservação da energia. Afirmam que a aceleração secular da Lua, calculada com o auxílio de lei de Newton é menor do que aquela que é deduzida das observações, se não fizermos a correcção relativa ao retardamento da rotação terrestre. Eles invocam a lei de Newton. Noutros termos, definem a duração do seguinte modo: o tempo deve ser definido de modo que tanto a lei de Newton como o princípio das forças vivas seja verificado.

A lei de Newton é uma constatação da experiência e como tal é aproximada, o que mostra que continuamos a ter uma definição aproximada também.

Se supusermos que adoptamos uma outra maneira de medir o tempo, as experiências fundamentadas na lei de Newton não deixam de conservar o mesmo sentido. Apenas o enunciado da lei será diferente porque será traduzido numa outra linguagem. Será, contudo, menos simples.

A definição implicitamente acatada pelos astrónomos pode ser resumida do seguinte modo:

O tempo deve ser definido de modo que as equações da mecânica sejam as mais simples possíveis. Por outras palavras, não existe a maneira mais válida de medir o tempo. Apenas a que é geralmente adoptada é a mais cómoda. De dois relógios não é justo dizer que um anda bem e outro mal. Podemos dizer que nos trás vantagens em nos reportarmos às indicações do primeiro do que às do segundo.

A dificuldade com a qual nos vamos ocupar foi, como disse, muitas vezes notada. Entre as obras mais recentes onde surge esta questão, cito, para além do opúsculo de Calinon, o tratado de mecânica de Andrade.

A segunda dificuldade tem, até agora, atraído menos atenções. Ela é muito análoga à primeira e mesmo logicamente, tenho o dever de a discutir de seguida.

Dois fenómenos físicos passam-se em duas consciências diferentes. Quando digo que estes são simultâneos, o que quero realmente dizer? Quando digo que um fenómeno físico que se passa fora de todas as consciências é anterior ou posterior a um fenómeno psicológico, que quero dizer com isso?

Em 1572, Tycho Braché observa no céu uma nova estrela. Uma imensa conflagração é produzida naqueles astros tão distantes. Mas ela produziu-se muito tempo antes. Levou pelo menos duzentos anos desde que a luz que partiu desta estrela atingiu a nossa Terra. Esta conflagração é anterior à descoberta da América.

Pois bem, quando digo isto, quando considero este fenómeno gigantesco que não pôde ter qualquer testemunha, uma vez que os satélites destas estrelas não são habitados, quando digo que este fenómeno é anterior à formação da imagem visual da ilha “La Española” na consciência do Cristóvão Colombo, que quero dizer?

É suficiente um pouco de reflexão para que todas estas afirmações são desprovidas de qualquer sentido. Elas não o poderão ter senão por intermédio de uma convenção.

Doravante, nos propomos averiguar como podemos evitar a ideia de fazer entrar, num mesmo quadro, uma série de mundos impenetráveis uns sobre os outros. Gostaríamos de representar o Universo exterior e é desta forma que cremos compreendê-lo.

Esta representação, jamais na alcançaremos, sabemos: a nossa doença é demasiado grande.

Nós queremos, ao menos, que possa ser concebido por uma inteligência infinita para a qual tal representação seja possível, uma espécie de grande consciência que de tudo se apercebe, e que classifica tudo ao longo do nosso tempo, o pouco que vemos.

Esta hipótese é grosseira e incompleta, porque esta inteligência suprema será um semideus. Infinito num sentido, será limitado em outro porque terá do passado uma lembrança imperfeita. Não poderá ter outra porque todas as recordações lhe serão igualmente presentes e ele não terá tempo para todas elas.

E ainda quando falamos do tempo, por tudo o que se passa para além de nós, adoptamos inconscientemente esta hipótese. Colocamo-nos no lugar desse deus imperfeito. Os próprios ateus se colocam nesse lugar ou será Deus, se existir.

Isto que tenho vindo a dizer, mostra-nos talvez porque tentámos enquadrar todos os fenómenos físicos na mesma moldura. Mas tal não pode passar por uma definição de simultaneidade, uma vez que essa inteligência hipotética, se existisse, seria impenetrável por nós. É necessário procurar outra coisa.

As definições usuais concordantes com o tempo psicológico, não nos são suficientes. Dois feitos psicológicos são ligados tão estreitamente que a análise não os poderá separar sem os deturpar. Será o mesmo para dois eventos físicos? O meu presente não estará mais próximo do meu passado de ontem que o presente de Sirius?

Dissemos também que dois feitos devem ser encarados como simultâneos quando a ordem da sua sucessão pode ser invertida à vontade. É evidente que esta definição não é conveniente para dois feitos físicos separados, entre si, por grandes distâncias e que, no que lhes concerne, não compreendemos o que poderá ser essa reversibilidade. Então, é o conceito de sucessão que carecemos definir.

Procuremos dar-nos conta do que entendemos por simultaneidade ou anterioridade e, para tal, analisemos alguns exemplos. Eu escrevo uma carta. Essa carta é lida por um amigo ao qual a enderecei. Eis dois feitos que tiveram, como palco, duas consciências diferentes. Ao escrever esta carta, eu possuía uma imagem visual e o meu amigo possuiu, por seu turno, esta mesma imagem ao ler a carta.

Mesmo que estes dois feitos passam-se em dois mundos interpenetráveis, eu não hesitarei em encarar o primeiro como anterior ao segundo porque creio ser este a causa.

Eu ouço um trovão e concluo que se deu uma descarga eléctrica. Não hesito em considerar o fenómeno físico como anterior à imagem sonora notada pela minha consciência, porque creio que se tratou da causa.

Eis a regra que seguimos e a única que poderemos seguir. Quando um fenómeno nos parece a causa de um outro, encaramo-lo como anterior.

Então é pela causa que definimos o tempo. Mas também se segue que quando dois feitos nos parecem ligados por uma relação constante, como reconhecemos qual é a causa ou qual é o efeito? Admitimos que o feito anterior, o antecedente, é a causa de outro, do consequente. É, então, por intermédio do tempo que definimos a causa. Como saímos deste imbróglio de princípo? Dizemos às vezes post hoc, ergo propter hoc, às vezes propter hoc, ego post hoc. Jamais sairemos deste círculo vicioso?

Vejamos, não como nos meneamos em nos livrarmos dele, porque não nos livramos completamente, mas como procuramos tal saída.

Executo um acto voluntário A e sofro, de seguida, uma sensação D que vejo como uma consequência do acto A. Por outro lado, por uma qualquer razão, deduzo que esta consequência não é imediata mas que se produzem fora da minha consciência, dois feitos B e C, os quais não testemunho e de modo que B seja o efeito de A, que C seja o efeito de B e D seja o efeito de C.

Mas porquê assim? Se creio ter razões para encarar os feitos A, B, C e D como ligados entre si por uma relação de causalidade, porque ordená-los numa ordem causal A, B, C e D e ao mesmo tempo numa ordem cronológica ABCD e não noutra ordem qualquer?

Vejo bem que no acto A tenho o sentimento de ter sido activo enquanto sofrendo a sensação , tenho o sentimento de ter sido passivo. É por isto que encaro o evento A como a causa inicial e  como o efeito último. É por isso que coloco A no início da sucessão e  no seu final. Mas porque meter B antes de C ao invés de C antes de B?

Se nos puserem tal questão, respondemos normalmente: sabemos bem que é B a causa de C porque vemos sempre B se dar após C. Estes dois fenómenos, quando somos testemunhas, passam-se sempre numa certa ordem. Quando fenómenos análogos se produzem sem testemunhas, não há qualquer razão para que essa ordem seja invertida.

Sem dúvida, mas tenhamos cuidado. Nós jamais conhecemos directamente os fenómenos físicos B e C. Aquilo que conhecemos são as sensações B’ e C’ produzidas respectivamente por B e por C. A nossa consciência ensina-nos imediatamente que B’ precede C’ e admitimos que B e C se sucedem na mesma ordem.

Esta regra parece, com efeito, bastante natural, ainda que muitas vezes sejamos conduzidos a afastá-la. Nós só nos apercebemos do ruído do trovão após alguns segundos da descarga eléctrica das nuvens. Entre dois relâmpagos, um longe e outro perto, o primeiro não pode ser anterior ao segundo, uma vez que o som do segundo nos chega depois do ruído do primeiro?

Uma outra dificuldade; temos o direito de falar sobre a causa de um fenómeno? Se todas as partes do Universo são solidárias dentro de uma certa medida, um fenómeno qualquer não será parte do efeito de uma única causa mas da resultante de uma infinidade de causas, dizemos muitas vezes, o estado do Universo um instante anterior.

Como enunciar regras aplicáveis a circunstâncias tão complexas? E portanto, é devido a isto que estas regras não poderão ser gerais e rigorosas. Para não nos perdermos nesta infinita complexidade, façamos uma hipótese mais simples. Consideremos três astros, por exemplo, o Sol, Júpiter e Saturno. Para simplificar, encaramo-los como pontos materiais e isolados do resto do mundo. As posições e velocidades dos corpos num dado instante são suficientes para determinar as posições e velocidades no instante seguinte e, consequentemente, num instante qualquer. As suas posições no instante t determinam as suas posições no instante t+h, assim como as suas posições no instante t-h.

E ainda há mais. A posição de Júpiter no instante t, juntamente com a posição de Saturno no instante t+a, permite determinar a posição de Júpiter num instante qualquer, bem como a posição de Saturno num instante qualquer.

O conjunto de posições que ocupa Júpiter no instante t+ε e Saturno no instante t+a+ε está ligado ao conjunto das posições que ocupa Júpiter no instante t e ocupa Saturno no instante t+a, de acordo com leis tão precisas como aquela de Newton, ou até mais complicadas.

Sendo assim, porque não encarar um dos conjuntos como a causa do outro, que conduz a considerar como simultâneos o instante t de Júpiter e o instante t+a de Saturno? Não poderá haver outra coisa, senão a razão de comodidade e de simplicidade, muito forte, é verdade.

Mas passemos aos exemplos menos artificiais. Para nos darmos conta da definição implícita aceite pelos estudiosos, estudemos as suas obras e procuremos determinar quais as regras eles procuram para a simultaneidade. Escolho dois exemplos simples: a medição da velocidade da luz e a medição das longitudes.

Quando um astrónomo me diz que um fenómeno estelar, que o seu telescópio lhe revelou nesse momento, se passou entretanto há cinquenta anos, procuro saber o que ele quer dizer com isso, pergunto-lhe como sabe, isto é, como é que ele mediu a velocidade da luz.

Ele começou por admitir que a luz tem uma velocidade constante e, em particular, que a sua velocidade é a mesma em todas as direcções. Eis um postulado sem o qual nenhuma medição desta velocidade poderia ser tentada. Este postulado jamais poderá ser verificado directamente pela experiência. Poderá ser contradito por ela, se os resultados das diversas medições não forem concordantes. Deveremos nos sentir satisfeitos que não se dê tal contradição e que as pequenas discordâncias que se produzam possam facilmente ser explicadas.

O postulado, em todo o caso, conforme ao princípio da razão suficiente, foi adoptado por toda a gente. Quero lembrar que nos fornece uma nova regra para a determinação da simultaneidade, inteiramente diferente daquela que nós vimos enunciadas atrás. Admitindo este postulado, vejamos como foi medida a velocidade da luz. Sabemos que Roemer se serviu dos eclipses dos satélites de Júpiter e procurou determinar o quanto esses eventos se atrasavam relativamente à predição.

Mas como fez tal predição? Recorreu-se das leis astronómicas, por exemplo, a lei de Newton.

Os efeitos observados poderiam muito bem ser explicados se atribuíssemos à velocidade da luz um valor um pouco diferente do valor adoptado e se admitíssemos que a lei de Newton é aproximada. Somente seríamos conduzidos as substituir a lei de Newton por uma outra mais complicada. Deste modo, adoptamos para a velocidade da luz um tal valor que as leis astronómicas compatíveis com esse valor são tão simples quanto possível.

Quando os marinheiros ou os geógrafos determinam uma longitude, eles resolvem o problema de que nos ocupamos. Eles têm, sem estar em Paris, de saber a hora de Paris. Como o fazem?

Ora bem, levam um cronómetro sincronizado de Paris. O problema qualitativo da simultaneidade é reduzido ao problema quantitativo da medição do tempo. Não tenho de lembrar as dificuldades inerentes a este último problema porque já nele atrás insisti longamente.

Ou então, observam um fenómeno astronómico, tal como um eclipse da lua e admitem que é apercebido simultaneamente em todos os pontos do globo.

Tal não é inteiramente verdade, porque a propagação da luz não é instantânea. Se quisermos uma exactidão absoluta, haverá uma correcção a fazer de acordo com uma regra complicada.

Ou então, por fim, servem-se do telégrafo. É claro que a recepção do sinal em Berlim, por exemplo, é posterior à expedição desse mesmo sinal em Paris. É a regra da causa e do efeito analisada anteriormente. Mas posterior em quanto? Em geral, negligenciamos a duração da transmissão e encaramos os dois eventos como simultâneos. Mas, para ser rigoroso, faltava fazer uma pequena correcção por um cálculo complicado. Não a fazemos na prática porque seria ainda mais insignificante que os erros de observação. A sua necessidade teórica permanece, no entanto, no nosso ponto de vista, que corresponde ao de uma definição rigorosa.

Desta discussão retenho duas coisas:

1.       As regras aplicadas são muito variadas.

2.       É difícil separar o problema qualitativo da simultaneidade do problema quantitativo da medição do tempo. Quer nos sirvamos dum cronómetro, quer conheçamos o valor da velocidade de uma transmissão, como a da luz, porque não sabemos determinar medir uma tal velocidade sem medir o tempo.

É conveniente concluir. Nós não temos a intuição directa da simultaneidade e muito menos da igualdade de duas durações. Se acreditamos ter essa intuição, é uma ilusão. Nós substituímo-lo por intermédio de certas regras que aplicamos quase sem nos darmos conta. Mas qual é a natureza destas regras?

Não há regra geral, não há regra rigorosa, uma multiplicidade de pequenas regras aplicáveis a cada caso particular. Estas regras não se nos impõem e podemos divertir-nos a inventar outras. No entanto não nos podemos desviar sem complicar demasiado as leis da física, da mecânica, da astronomia.

Nós escolhemos então estas regras, não porque são verdadeiras, mas porque são as mais cómodas e poderíamos resumi-las deste modo:

«A simultaneidade de dois eventos, ou a ordem da sua sucessão, a igualdade de duas durações, deverão ser definidas de modo que o enunciado das leis naturais seja tão simples quanto possível. Por outras palavras, todas estas regras, todas estas definições são o fruto dum oportunismo inconsciente.»