terça-feira, 11 de março de 2014

O que é ciência, o que é má ciência, o que não é ciência, o que é pseudociência, e os problemas de demarcação e delimitação, para definir umas das outras. Uma visão esclarecedora através da filosofia da ciência!



Ciência e Pseudociência



Copyright © 2014 by Sven Ove Hansson (autor do artigo)
Tradução do Inglês para o Português: Roberto das Neves

Publicado pela primeira vez em: Quarta-feira, 03 de setembro de 2008, a revisão substantiva em: Segunda-feira, 10 de fevereiro de 2014.

A demarcação entre ciência e pseudociência é parte da tarefa maior para determinar quais crenças são epistemicamente justificadas. A entrada esclarece a natureza específica da pseudociência em relação a outras formas de doutrinas e práticas não-científicas. Os principais critérios de delimitação propostas, são analisados e algumas de suas fraquezas são apontadas. Em conclusão, ressalta-se que há muito mais consenso sobre questões específicas de demarcação do que sobre os critérios gerais, que tais julgamentos devem ser baseados.

Esta é uma indicação de que, ainda há muito trabalho filosófico importante a ser feito sobre a demarcação entre ciência e pseudociência.

1. O objetivo das demarcações
2. A "ciência" da pseudociência
3. O "pseudo" da pseudociência
3.1 Não pseudociência
3.2 Não-ciência posando como ciência
3.3 O componente doutrinal
3.4 Um sentido mais amplo da pseudociência
3.5 Os objetos de demarcação
3.6 A demarcação com prazos
4. Critérios de delimitação alternativos
4.1 Os positivistas lógicos
4.2 Falsificacionismo
4.3 O critério do quebra-cabeças
4.4 Os critérios baseados no progresso científico
4,5 Normas epistêmicas
4.6 abordagens multi-criteriológicas
5. Unidade na diversidade
Bibliografia
Bibliografia da literatura, filosoficamente informado sobre pseudociências e doutrinas contestadas.

1. O objetivo das demarcações

Demarcações da ciência e da pseudociência podem ser feitas por razões teóricas e práticas (Mahner de 2007, 516). De um ponto de vista teórico, a questão de demarcação é uma perspectiva esclarecedora, que contribui para a filosofia da ciência, da mesma forma que o estudo de falácias, contribui para o estudo da lógica informal e argumentação racional.

De um ponto de vista prático, a distinção é importante para a orientação da decisão, tanto na vida privada quanto na pública. Desde que a ciência é a nossa fonte mais confiável de conhecimento em uma ampla variedade de áreas, é preciso distinguir o conhecimento científico de seus sósias. Devido ao elevado status da ciência na sociedade atual, as tentativas de exagerar o status científico de várias reivindicações, ensinamentos e produtos, são comuns o suficiente, para fazer a questão de demarcação, urgentemente em muitas áreas. A questão de demarcação é importante em muitas aplicações práticas, tais como os seguintes:

Saúde: A ciência médica desenvolve e avalia os tratamentos de acordo com a evidência de sua eficácia. Atividades pseudocientíficas nesta área dão origem a intervenções ineficazes e às vezes perigosas. Os profissionais de saúde, seguradoras, autoridades governamentais, e o mais importante, os pacientes, precisam de orientação sobre como distinguir entre ciência médica e pseudociência médica.

Testemunho de especialista: É essencial para o Estado de direito, que os tribunais obtenham os fatos de forma correta. A confiabilidade dos diferentes tipos de provas, deve ser determinada corretamente, e prova pericial, deve ser baseada no melhor conhecimento disponível. Às vezes, é do interesse dos litigantes, para apresentar alegações não científicas como a ciência sólida. Portanto, tribunais devem ser capazes de distinguir entre ciência e pseudociência. Os filósofos muitas vezes, tiveram papéis de destaque na defesa da ciência contra a pseudociência em tais contextos. (Hansson 2011)

As políticas ambientais: Para estar no lado seguro contra possíveis desastres, pode ser legítimo, para tomar medidas preventivas, quando há evidência válida, mas ainda insuficiente de um perigo ambiental. Este deve ser distinguido de: tomar medidas contra um suposto perigo para o qual não há nenhuma evidência válida em tudo. Por isso, os tomadores de decisão na política ambiental, devem ser capazes de distinguir entre afirmações científicas e pseudocientíficas.

A educação científica: Os promotores de algumas pseudociências (nomeadamente criacionismo) tentam introduzir seus ensinamentos nos currículos escolares. Os professores e autoridades escolares precisam ter critérios claros de inclusão, que protejam os alunos contra os ensinamentos pouco confiáveis ​​e refutados.

O trabalho sobre o problema da demarcação parece ter diminuído após Laudan (1983) uma certidão de óbito muito notável, segundo a qual, não há esperança de encontrar um critério de algo necessário e suficiente tão heterogêneo quanto a metodologia científica. Em anos mais recentes, o problema foi revitalizado. Filósofos atestando sua vitalidade sustentam que, o conceito pode ser esclarecido por outros meios que não uma definição necessária e suficiente (Pigliucci 2013; Mahner 2013) ou, que tal definição é de fato possível, embora tenha de ser complementado com os critérios específicos de cada disciplina, a fim de tornar-se pleno em funcionamento. (Hansson 2013)

2. A "ciência" da pseudociência

O mais antigo uso conhecido da palavra "pseudociência" data de 1.796, quando o historiador James Pettit Andrew se refere à alquimia como uma "fantástica pseudo-ciência" (Dicionário de Inglês Oxford). A palavra está em uso frequente desde a década de 1880. "Ao longo de sua história, a palavra tem um significado claramente difamatório” (Laudan 1983, 118; Dolby 1987, 204). Seria tão estranho para alguém descrever orgulhosamente suas próprias atividades como pseudociência, como vangloriar-se de que eles são má ciência. Desde a conotação pejorativa é uma característica essencial da palavra "pseudociência", uma tentativa de libertar uma definição livre de valor do termo, não seria significativa. Um termo essencialmente carregado de valor tem que ser definido em termos de valor carregado. Este é muitas vezes difícil, uma vez que, a especificação do componente de valor tende a ser controverso.

Este problema não é específico da pseudociência, mas segue diretamente a partir de um problema paralelo, mas, um pouco menos visível, com o conceito de ciência. O uso comum do termo "ciência" pode ser descrito como: parte descritiva e parte normativa. Quando uma atividade é reconhecida como ciência, geralmente isso envolve um reconhecimento de que, ele tem um papel positivo nos nossos esforços para o conhecimento. Por outro lado, o conceito de ciência, foi formado através de um processo histórico, e muitas contingências influenciaram o que chamamos e não chamamos ciência.

Neste contexto, a fim de não ser excessivamente complexa a definição de ciência, ela tem que ir, em uma de duas formas. Ela pode se concentrar no conteúdo descritivo, e especificar como o termo é usado realmente. Como alternativa, pode-se concentrar no elemento normativo, e esclarecer o significado mais fundamental do termo. A última abordagem tem sido a escolha da maioria dos filósofos que escrevem sobre o assunto, e vai estar em foco aqui. Ela envolve, necessariamente, algum grau de idealização, em relação ao uso comum do termo "ciência".

No Inglês, a palavra "ciência", é principalmente usada sobre as ciências naturais e outras áreas de pesquisa, que são consideradas para ser semelhantes a eles. Assim, a economia política e a sociologia são contadas como ciências, ao passo que, os estudos de literatura e história geralmente não são. A correspondente palavra alemã "Wissenschaft" tem um significado muito mais amplo e inclui todas as especialidades acadêmicas, incluindo as ciências humanas. O termo alemão tem a vantagem de delimitar, de forma mais adequada, o tipo de conhecimento sistemático que está em jogo, no conflito entre ciência e pseudociência. 

As deturpações da história apresentadas por negadores do Holocausto e outros pseudo-historiadores, são muito semelhantes em sua origem, para as deturpações das ciências naturais promovidas pelos criacionistas e homeopatas.

Mais importante ainda, as ciências naturais, sociais e as humanas, são todas partes de um mesmo esforço humano, ou seja, sistemática e investigações críticas, visando adquirir a melhor compreensão possível do funcionamento da natureza, das pessoas e da sociedade humana. As disciplinas que compõem esta comunidade de disciplinas de conhecimento são cada vez mais interdependentes (Hansson 2007). Desde a segunda metade do século 20, as disciplinas integradoras, como a astrofísica, biologia evolutiva, bioquímica, ecologia, química quântica, as neurociências, a teoria dos jogos, e tem-se desenvolvidas a uma velocidade dramática, e contribuiu para amarrar juntas as disciplinas previamente desconectadas. Este aumento de interconexões, também ligaram as ciências e as humanidades mais próximas umas das outras, como pode ser visto, por exemplo, como o conhecimento histórico, depende cada vez mais, da análise científica avançada sobre achados arqueológicos.

O conflito entre a ciência e a pseudociência é mais bem compreendido com este sentido amplo da ciência. De um lado do conflito, encontramos a comunidade de disciplinas de conhecimento, que inclui as ciências naturais, sociais e as humanas. Por outro lado, encontramos uma grande variedade de movimentos e doutrinas, como o criacionismo, a astrologia, a homeopatia, e a negação do Holocausto, que estão em conflito com os resultados e métodos, que são geralmente aceitos na comunidade de disciplinas de conhecimento.

Outra maneira de expressar isso é que, o problema da demarcação, tem uma preocupação mais profunda, do que a de demarcar a seleção das atividades humanas, que temos por vários motivos, escolhido para chamar de "ciências". A questão final é "como determinar quais crenças são epistemicamente justificadas" (Fuller 1985, 331).

3. O "pseudo" da pseudociência

3.1 Não pseudociência

As frases "de demarcação da ciência" e "de demarcação da ciência de pseudociência", são muitas vezes usadas ​​como sinônimos, e muitos autores parecem ter considerado, como iguais em significado. Em suas opiniões. A tarefa de desenhar os limites exteriores da ciência é essencialmente, a mesma que, a de desenhar a fronteira entre ciência e pseudociência.

A imagem é muito simplificada. Todos os não-ciência, não é pseudociência e, a ciência tem fronteiras não-triviais, para outros fenômenos não-científicos, tais como a metafísica, a religião e vários outros tipos de conhecimento sistematizados como não-científica. (Mahner (2007, 548) propôs o termo "paraciência", para cobrir as práticas não científicas, que não são pseudocientíficas.) A ciência tem também, o problema de demarcação interna, de distinguir entre a boa e a má ciência.

Uma comparação entre os termos negados, relacionados com a ciência, pode contribuir para esclarecer as distinções conceituais. "Unscientifc" é um conceito mais restrito do que o "não-científico" (e não científica), já que, o primeiro, mas não o último termo, implica alguma forma de contradição ou conflito com a ciência. "Pseudocientífica" é por sua vez, um conceito mais restrito do que o "não científico". O último termo difere do anterior, na cobertura das medidas inadvertidas, erros de cálculo e outras formas de má ciência, realizada por cientistas que são reconhecidos como tentando, mas não produzindo boa ciência.

A Etimologia nos fornece um ponto de partida óbvio para esclarecer quais as características a pseudociência tem, além de ser meramente não ciência, ou não-científica. "Pseudo-" (ψευδο-) significa falso. De acordo com isso, o Dicionário de Inglês Oxford (OED) define pseudociência como se segue:

"A pretensa ciência ou espúria; um conjunto de crenças relacionadas sobre o mundo erroneamente considerado como sendo baseado em método científico ou, como tentando ter o status que as verdades científicas têm agora."
3.2 A Não-ciência posando como ciência

Muitos escritores sobre a pseudociência têm enfatizado que: pseudociência não é ciência posando como ciência. O clássico moderno, acima de tudo, sobre o assunto (Gardner 1957) traz o título “Modismos e Falácias em nome da ciência”. De acordo com Brian Baigrie (1988, 438), "[w] uma cobertura censurável sobre essas crenças, é que: eles mascaram seus protegidos, como genuinamente científicos." Estes e muitos outros autores, assumem que, para ser pseudocientífica, uma atividade ou um ensinamento, tem de satisfazê-lo, seguindo dois critérios (Hansson, 1996):

(1)          não é científico, e
(2)          seus principais defensores tentam criar a impressão de que é científico.

O primeiro destes dois critérios é fundamental para as preocupações da filosofia da ciência. Tem sido objeto de controvérsias importantes entre os filósofos (que será discutido a seguir, na Seção 4). O segundo critério, é filosoficamente menos importante, mas ele precisa receber um tratamento cuidadoso, não menos importante, uma vez que, muitas discussões de pseudociência (dentro e fora da filosofia) têm sido confundidas, devido a pouca atenção a ela.

3.3 O componente doutrinal

Um problema imediato, com a definição baseada em (1) e (2) é que, é muito ampla. Há fenômenos que satisfazem ambos os critérios, mas, não são comumente chamadas de pseudocientíficas. Um dos exemplos mais claros disso é fraude na ciência. Esta é uma prática, que tem um alto grau de pretensão científica, e ainda, não está de acordo com a ciência, satisfazendo, assim, ambos os critérios. No entanto, a fraude, em ramos de outro modo legítimos da ciência, é raramente, se alguma vez o foi, chamada de "pseudociência". A razão para isto pode ser esclarecida com os seguintes exemplos hipotéticos (Hansson, 1996).

Caso 1: Um bioquímico realiza um experimento, que ele interpreta como: mostrando que uma determinada proteína, tem um papel essencial na contração muscular. Há um consenso entre os seus colegas, que o resultado é um mero artefato, devido a um erro experimental.

Caso 2: Um bioquímico continua realizando um experimento desleixado após o outro. Ele consistentemente interpreta como: mostrando que uma determinada proteína tem um papel na contração muscular, não aceito por outros cientistas.

Caso 3: Um bioquímico realiza vários experimentos desleixados em diferentes áreas. Um deles,  a experiência referida no caso 1. Muito do seu trabalho é da mesma qualidade. Ele não propaga qualquer teoria não ortodoxa particular.

De acordo com o uso comum, 1 e 3 são considerados como casos de má ciência, e apenas 2 como um caso de pseudociência. O que está presente no caso 2, mas ausente nos outros dois, é uma doutrina desviante. Isolados incumprimentos das exigências da ciência, não são comumente considerados como pseudocientífica. A pseudociência, como é comumente concebida, envolve um esforço sustentado, para promover ensinamentos diferentes daqueles que têm legitimidade científica na época.

Isso explica por que a fraude na ciência não é geralmente considerada como pseudocientífica. Tais práticas não são, em geral, associadas a uma doutrina desviante ou heterodoxa. Ao contrário, o cientista fraudulento, está ansioso para que seus resultados estejam de acordo com as previsões das teorias científicas estabelecidas. Desvios deles levá-las-iam lá, a um risco muito maior de divulgação.

O termo "ciência" tem tanto uma individualização e um sentido “unindividuated”. (No sentido individualizado), bioquímica e a astronomia são diferentes ciência s, uma das quais, inclui estudos de contração muscular e outro, estudos de supernovas. O Dicionário de Inglês Oxford (OED) define este sentido da ciência como "um determinado ramo do conhecimento ou estudo; um departamento reconhecido de aprendizagem". No sentido “unindividuated”, o estudo de proteínas musculares e de supernovas, são partes de "uma e a mesma" ciência. Nas palavras do OED, ciência “unindividuated” é o tipo de conhecimento, ou atividade intelectual, de que, as várias "ciências” "são exemplos".

A pseudociência é uma antítese da ciência não individualizada, ao invés do sentido “unindividuated”. Não há, corpus unificado de pseudociência correspondente ao corpus da ciência. Para um fenómeno ser pseudocientífico, deve pertencer a uma ou a outra das pseudociências particulares. A fim de acomodar esta característica, a definição acima pode ser modificada, substituindo (2) pelo seguinte (Hansson, 1996):

(2 ')        é parte de uma doutrina não-científica, cujos proponentes importantes, tentam criar a impressão de que é científica.
A maioria dos filósofos da ciência, e a maioria dos cientistas, preferem considerar a ciência, como constituída por métodos de investigação, e não por particulares doutrinas. Há uma tensão evidente entre (2 ') e esta visão convencional da ciência. Isso, no entanto, pode ser como deveria, desde pseudociência, muitas vezes, envolve uma representação da ciência como uma doutrina fechada e acabada, e não como uma metodologia de investigação em aberto.

3.4 Um sentido mais amplo da pseudociência

Algumas vezes o termo "pseudo" é utilizado no sentido mais amplo do que aquele que é capturado na definição constituída de (1) e (2 '). Ao contrário do que (2 '), as doutrinas que estão em conflito com a ciência, às vezes são chamadas de "pseudocientífica" apesar de não ser, ou ter, avançado como científica.

Assim, Grove (1985, 219) incluídos entre as doutrinas pseudocientíficas, aquelas que "pretendem oferecer visões alternativas aos da ciência, ou, a pretensão de explicar o que a ciência não pode explicar." Da mesma forma, Lugg (1987, 227-228) sustentou que "as  previsões por clarividência são pseudocientíficas, ou, não estão corretas ", apesar do fato de que, a maioria dos clarividentes não professam ser praticantes da ciência. Nesse sentido, a pseudociência é assumida para incluir não apenas doutrinas contrárias à ciência proclamadas a ser científica, mas doutrinas contrárias à ciência “tout court”, ou, não são apresentadas em nome da ciência. Para cobrir este sentido mais amplo de pseudociência, (2 ') pode ser modificado como se segue (Hansson 1996, 2013):

(2 ")       é parte de uma doutrina, cujos proponentes tentam criar a impressão de que, ele representa o conhecimento mais confiável no seu assunto.

O uso comum, parece vacilar entre as definições (1) + (2 ') e (1) + (2 "), e isso, de uma forma interessante: em seus comentários sobre o significado do termo, os críticos da pseudociência tendem a endossar um definição perto de (1) + (2 '), mas a sua utilização efetiva é muitas vezes mais perto de (1) + (2 ").

Os exemplos seguintes servem para ilustrar a diferença entre as duas definições e também para esclarecer por cláusula (1) é necessária:

Um livro criacionista dá um relato correto da estrutura do DNA.
Um livro de química, de outra forma confiável, dá conta incorreta da estrutura do DNA.
Um livro criacionista, nega que as partes de espécies humanas ancestrais, são comuns com outros primatas.
Um pregador que nega que a ciência pode ser confiável, também nega que as partes de espécies humanas ancestrais são comuns com outros primatas.
(A) não satisfaz (1), e não é, portanto, pseudocientífica por sua conta. (B) satisfaz (1), mas nem (2 '), nem (2 ") e não é, portanto, pseudocientífica por sua conta. (C) satisfaz todos os três critérios, (1), (2 ') e (2 "), e por isso é pseudocientífica em ambas as contas. Finalmente, (d) satisfaz (1) e (2 ") e é, portanto, pseudocientífica de acordo com (1) + (2"), mas não é de acordo com (1) + (2 '). Como os dois últimos exemplos ilustram, pseudociência e anti-ciência, são às vezes, difíceis de distinguir. Promotores de algumas pseudociências (nomeadamente homeopatia) tendem a ser ambíguos entre oposição à ciência e afirmar que eles próprios representam o melhor da ciência.

3.5 Os objetos de demarcação

Várias propostas foram apresentadas sobre o que exatamente são os elementos em ciência ou pseudociência, critérios de demarcação devem ser aplicados. As propostas incluem que, a demarcação deve referir-se a um programa de pesquisa (Lakatos 1974a, 248-249), um campo epistêmico ou disciplina cognitiva, ou seja, um grupo de pessoas com conhecimento comum aos objetivos e suas práticas (Bunge 1982, 2001; Mahner 2007), uma teoria (Popper 1962, 1974), uma prática (Lugg 1992; Morris, 1987), um problema científico ou pergunta (Siitonen 1984), e um inquérito específico (Kuhn, 1974; Mayo 1996). É provavelmente justo, dizer que os critérios de demarcação podem ser significativamente aplicados, em cada um destes níveis de descrição. Um problema muito mais difícil é se, um desses níveis, é o nível fundamental para que, as avaliações sobre os outros níveis são redutíveis.

Derksen (1993) difere da maioria dos outros escritores, sobre o assunto de: colocar a ênfase na demarcação no pseudocientista, ou seja, o indivíduo conduzindo pseudociência. Seu principal argumento para isso é que, a pseudociência tem pretensões científicas, e tais pretensões são associadas com uma pessoa, não uma teoria, prática ou campo inteiro. No entanto, como foi observado por Settle (1971), é a racionalidade e a atitude crítica construída em instituições, ao invés de os traços intelectuais pessoais dos indivíduos, que distingue a ciência de práticas não-científicas como a magia. O indivíduo praticante de magia em uma sociedade pré-letrada, não é necessariamente, menos racional do que o cientista, indivíduo na sociedade ocidental moderna. O que lhe falta é um ambiente intelectual da racionalidade coletiva e crítica mútua. "É quase uma falácia da divisão, insistir que cada cientista individualmente seja criticamente disposto” (Settle 1971, 174).

3.6 A demarcação com prazos

Alguns autores sustentam que a demarcação entre ciência e pseudociência, deve ser atemporal. Se isso fosse verdade, então, seria contraditório para rotular algo como pseudociência em um, mas não outro ponto no tempo. Por isso, depois de mostrar que o criacionismo é, em alguns aspectos, semelhante a algumas doutrinas do início do 18º século, um autor sustentou que "se tal atividade era descritível como a ciência, então, não é um motivo de descrevê-la como a ciência" (Dolby 1987, 207). Este argumento baseia-se num equívoco fundamental da ciência. É uma característica essencial da ciência que metodicamente se esforça para melhorar, através de testes empíricos, a crítica intelectual, e na exploração de novos terrenos. Um ponto de vista ou teoria, não pode ser científico, a menos que, se relaciona de forma adequada a este processo de melhoria, o que significa, no mínimo, que as rejeições bem fundamentadas de pontos de vista científicos anteriores são aceitos. A demarcação da ciência não pode ser atemporal, pela simples razão de que, a própria ciência não é intemporal.

No entanto, a mutabilidade da ciência é um dos fatores a que presta a demarcação entre ciência e pseudociência, difícil. Derkson (1993, 19) justamente, salientou três principais razões pelas quais, a demarcação às vezes é difícil: a ciência muda ao longo do tempo, a ciência é heterogênea, e da própria ciência estabelecida, não está livre dos defeitos característicos de pseudociência.

4. Critérios de delimitação alternativos

As tentativas de definir o que hoje é a ciência, têm uma longa história, e as raízes do problema da demarcação, remontam a Aristóteles (Posterior Analytics) (Laudan 1983). No entanto, não foi até o 20 º século, que as definições influentes da ciência, têm contrastado contra a pseudociência.

4.1 Os positivistas lógicos

Por volta de 1930, os positivistas lógicos do Círculo de Viena, desenvolveram diversas abordagens verificacionistas para a ciência. A ideia básica era que: uma afirmação científica poderia ser distinguida de uma declaração metafísica, por ser, pelo menos em princípio, possível de verificar. Este ponto de vista foi associado com a visão de que o significado de uma proposição é o seu método de verificação (veja a seção sobre Verificacionismo na entrada no Círculo de Viena ). Esta proposta tem sido frequentemente incluída nas contas da demarcação entre ciência e pseudociência. No entanto, isso não é historicamente muito preciso, já que as propostas verificacionistas tinham o objetivo de resolver um problema de demarcação bem diferente, ou seja, entre a ciência e a metafísica.

4.2 Falsificacionismo

Popper descreveu o problema da demarcação, como: a "chave para a maioria dos problemas fundamentais da filosofia da ciência" (Popper 1962, 42). Ele rejeitou a verificabilidade como critério para uma teoria científica ou hipótese, de ser científica ao invés de pseudocientífica ou metafísica. Em vez disso, ele propôs como critério, que a teoria é falsificável ou falseável, ou mais precisamente, que "declarações ou sistemas de declarações, a fim de serem classificados como científico, devem ser capazes de entrar em conflito com possíveis ou imagináveis ​​observações" (Popper 1962, 39).

Popper apresentou esta proposta como uma maneira de traçar a linha entre as declarações pertencentes às ciências empíricas e "todas as outras declarações  - sejam elas de um religioso, ou de um caráter metafísico, ou simplesmente pseudocientífico" (Popper 1962, 39; cf Popper 1974. , 981). Era tanto uma alternativa para critérios de verificação dos positivistas lógicos, quanto um critério para a distinção entre ciência e pseudociência. Apesar de Popper não enfatizar a distinção, estes são naturalmente duas questões diferentes. ( Bartley) (1968). Popper admitiu que as declarações metafísicas podem ser "longe de ser sem sentido" (1974, 978-979), mas não mostrou tal apreciação das demonstrações pseudocientíficas.

O critério de demarcação de Popper tem sido criticado, tanto para a exclusão de ciência legítima (Hansson 2006) quanto para algumas pseudociências, o status de ser científica (Agassi 1991; Mahner de 2007, 518-519). Estritamente falando, o seu critério exclui a possibilidade de que, pode haver uma alegação pseudocientífica que é refutável. De acordo com Larry Laudan, (1983, 121), ele: "tem a consequência perversa do consentimento, como científica”, a cada reivindicação de nivelamento que torna “aceitável, afirmações falsas". A astrologia, justamente feita por Popper, como um exemplo extraordinariamente claro de ser ela uma pseudociência, tem de fato, sido testada e completamente refutada (Culver e Ianna 1988; Carlson 1985). Da mesma forma, as principais ameaças ao status científico da psicanálise, outro de seus principais alvos, não vêm de reivindicações que é intestável, mas, a partir de alegações de que ela foi testada e falhou nos testes.

Defensores de Popper têm afirmado que essa crítica se baseia em uma interpretação inclemente de suas ideias. Eles afirmam que ele não deve ser interpretado no sentido de que a falseabilidade é uma condição suficiente para demarcar a ciência. Algumas passagens parecem sugerir que ele a toma como apenas uma condição necessária (Feleppa 1990, 142). Outras passagens sugerem que, para uma teoria ser científica, Popper requer (além de falseabilidade) que as tentativas energéticas sejam feitas para colocar uma teoria em teste, e que, os resultados negativos dos testes são aceitos (Cioffi 1985, 14-16). Um critério de demarcação com base em falsificação, que inclui estes elementos, vai evitar os mais óbvios contra-argumentos sobre um critério baseado na falseabilidade sozinha.

No entanto, no que parece ser a sua última declaração de sua posição, Popper declarou que falseabilidade é tanto uma necessidade e um critério suficiente. "A frase (ou uma teoria) é empírico-científica, se e somente se é falsificável". Além disso, ele enfatizou que a falseabilidade referida aqui, "só tem a ver com a estrutura lógica de sentenças e classes de sentenças" (Popper [1989] 1994, 82). A sentença (teórica), diz ele, é falsificável se e somente se ela contradiz logicamente algumas sentenças (empíricas) que descrevem logicamente um possível evento, que seria logicamente possível observar (Popper [1989] 1994, 83). A declaração pode ser falsificável, nesse sentido, embora não seja na prática possível falsificá-la. Parece seguir a partir desta interpretação, que o status de uma declaração como científica ou não-científica, não muda com o tempo. Em ocasiões anteriores, ele parece ter interpretado a falseabilidade de forma diferente, e sustentou que "o que era uma ideia metafísica de ontem, pode se tornar amanhã, uma teoria científica testável, e isso acontece com frequência" (Popper 1974, 981, 984 cf.).

Falseabilidade Lógica é um critério muito mais fraco do que falseabilidade prática. No entanto, mesmo falseabilidade lógica pode criar problemas em demarcações práticas. Popper, uma vez adotada a visão de que, a seleção natural não é uma teoria científica adequada, argumentando que ela chega perto de, apenas dizendo que "os sobreviventes sobrevivem", que é tautológica. "O darwinismo não é uma teoria científica testável, mas um programa de pesquisa metafísica" (Popper 1976, 168). Esta afirmação tem sido criticada por cientistas evolucionistas que apontaram que ele deturpa a evolução. A teoria da seleção natural tem dado origem a muitas previsões que resistiram a testes, tanto em estudos de campo quanto em laboratório (Ruse 1977; 2000).

Em uma palestra em Darwin College em 1977, Popper retratou sua visão anterior de que a teoria da seleção natural é tautológica. Ele admitiu que agora ela fosse uma teoria testável, apesar de "difícil de testar" (Popper 1978, 344). No entanto, a despeito de sua retratação bem fundamentada, seu ponto de vista anterior, continua sendo propagado em desafio as evidências acumuladas, a partir de testes empíricos da seleção natural.

4.3 O critério de quebra-cabeças

Thomas Kuhn é um dos muitos filósofos para quem, a visão de Popper sobre o problema da demarcação, era um ponto de partida para o desenvolvimento de suas próprias ideias. Kuhn criticou Popper para a caracterização de "todo o empreendimento científico, em termos que se aplicam apenas as suas ocasionais peças revolucionárias" (Kuhn 1974, 802). O foco de Popper sobre falsificações das teorias levaram a uma concentração nos casos raros, em que, em vez toda uma teoria que está em jogo. Segundo Kuhn, a maneira na qual a ciência funciona em tais ocasiões, não pode ser utilizado para caracterizar toda a atividade científica. Em vez disso, está em "ciência normal", a ciência que tem lugar entre os momentos incomuns de revoluções científicas, onde encontramos as características pelas quais, a ciência pode ser diferenciada de outros empreendimentos (Kuhn 1974: 801).

Na ciência normal, a atividade do cientista, consiste em resolver quebra-cabeças, em vez de testar teorias fundamentais. Nos quebra-cabeças, a teoria atual é aceita, e o quebra-cabeça é de fato, definido em seus termos. Na visão de Kuhn, "é a ciência normal, em que, tipos de testes de Sir Karl não ocorrem, ao invés de, a ciência extraordinária, que a maioria quase distingue a ciência de outras empresas", e, portanto, um critério de demarcação deve referir-se ao funcionamento da ciência normal (Kuhn 1974, 802). O próprio critério de demarcação de Kuhn é a capacidade de quebra-cabeças, que ele vê como uma característica essencial da ciência normal.

A visão de Kuhn de demarcação é mais claramente expressa em sua comparação da astronomia com a astrologia. Desde a antiguidade, a astronomia tem sido uma atividade de resolução de quebra-cabeças e, portanto, uma ciência. Se a previsão de um astrônomo falhasse, então este era um quebra-cabeça que ele poderia esperar para resolver, por exemplo, com mais medidas ou com os ajustes da teoria. Em contraste, o astrólogo não tinha tais quebra-cabeças já que em que a disciplina "fracassos particulares não deram origem a enigmas a pesquisar, pois nenhum homem, porém hábil, poderia fazer uso deles em uma tentativa construtiva de rever a tradição astrológica" (Kuhn 1974 804). Portanto, de acordo com Kuhn, a astrologia nunca foi uma ciência.

Popper desaprovou completamente o critério de demarcação de Kuhn. De acordo com Popper, astrólogos estão envolvidos na resolução de quebra-cabeças, e, consequentemente, o critério de Kuhn compromete-o a reconhecer a astrologia como uma ciência. (Ao contrário de Kuhn, Popper definiu os enigmas como "pequenos problemas que não afetam a rotina".) Em sua opinião, a proposta de Kuhn leva à "catástrofe de grandes proporções" de uma "substituição de um critério racional da ciência por um sociológico" (Popper 1974, 1146-1147).

4.4 Os critérios baseados no progresso científico

O critério de demarcação de Popper, diz respeito à estrutura lógica das teorias. Imre Lakatos descreveu este critério como "um tanto surpreendente”. A teoria pode ser científica, mesmo se não há um pingo de evidências a seu favor, e pode ser pseudocientífica, mesmo que todas as evidências disponíveis seja há seu favor. Ou seja, o caráter científico, ou não científico, de uma teoria, pode ser determinado de forma independente dos fatos “(Lakatos 1981, 117)”.

Em vez disso, Lakatos (1970, 1974a; 1974b; 1981) propôs uma modificação do critério de Popper, que ele chamou de "sofisticado (metodológico) falsificacionismo". Nesta visão, o critério de demarcação não deve ser aplicado a uma hipótese isolada ou teoria, mas sim, para um programa de pesquisa do todo, que é caracterizada por uma série de teorias substituindo sucessivamente uns aos outros. Em sua opinião, um programa de pesquisa é progressivo, se as novas teorias fazem previsões surpreendentes que estão confirmadas. Em contraste, um programa de pesquisa em degeneração é caracterizado por teorias sendo fabricadas apenas com o fim de acomodar os fatos conhecidos. O progresso na ciência, só é possível, se um programa de pesquisa atende ao requisito mínimo, que cada nova teoria que é desenvolvida no programa, tem um conteúdo empírico maior do que seu antecessor. Se um programa de pesquisa não satisfaz este requisito, então é pseudocientífica.

De acordo com Paul Thagard, uma teoria ou disciplina é pseudocientífica, se satisfaz dois critérios. Uma delas é que, a teoria não consegue progredir, e a outra que "a comunidade de praticantes, faz poucas tentativas de desenvolver a teoria para soluções dos problemas, não mostra nenhuma preocupação com as tentativas de avaliar a teoria, em relação as outras, e é seletiva ao considerar as confirmações e não considerar as desconfirmações "(Thagard 1978, 228). Uma das principais diferenças entre a sua abordagem e a de Lakatos é que, Lakatos classificaria uma disciplina não progressiva como pseudocientífica, ainda que seus praticantes trabalhem duramente, para melhorá-la e transformá-la em uma disciplina progressiva.

Em uma veia semelhante, Daniel Rothbart (1990) enfatizou a distinção entre as normas a serem utilizadas ao testar uma teoria, e os que a utilizam para determinar se uma teoria deve em tudo ser testada. No último, os critérios de elegibilidade, que incluem a teoria, devem encapsular o sucesso do número de motivos, da sua rival, e que, devem produzir implicações testáveis, ​​que são incompatíveis com as da rival. De acordo com Rothbart, uma teoria é científica se for fidedignamente testável neste sentido.

George Reisch propôs que a demarcação poderia basear-se na exigência de que, uma disciplina científica deve estar devidamente integrada nas outras ciências. As várias disciplinas científicas têm interligações fortes que são baseadas em metodologia, a teoria, a semelhança dos modelos, etc. Criacionismo, por exemplo, não é científica, porque os seus princípios e crenças básicas são incompatíveis com aqueles que se conectam e unificam as ciências. De um modo geral, diz Reisch, um campo epistêmico é pseudocientífico, se não puder ser incorporado na rede existente de ciências estabelecidas (Reisch 1998;. Cf Bunge 1982, 379).

4,5 Normas epistêmicas

Uma abordagem diferente, ou seja, os critérios de demarcação, com base sobre o valor da ciência, foi proposta pelo sociólogo Robert K. Merton ([1942] 1973). De acordo com Merton, a ciência é caracterizada por um "etos", que pode ser resumido como: quatro conjuntos de imperativos institucionais. A primeira delas, o universalismo, afirma que quaisquer que sejam suas origens, reivindicações de verdade devem ser submetidas a critérios pré-estabelecidos, impessoais. Isto implica que, a aceitação ou rejeição dos pedidos, não devem depender das qualidades pessoais ou sociais de seus protagonistas.

O segundo imperativo, o comunismo, diz que, os resultados substantivos da ciência, são os produtos de colaboração social e, portanto, pertencem à comunidade, ao invés de ser propriedade de indivíduos ou grupos. Isto é, como Merton apontou, é incompatível com as patentes que reservam direitos exclusivos de uso para inventores e descobridores. O termo "comunismo" é um pouco infeliz, "comunalidade" provavelmente capta melhor o que Merton visa.

Seu terceiro imperativo, o desinteresse, impõe um padrão de controle institucional que se destina a reduzir os efeitos de motivos pessoais ou ideológicos que os cientistas individuais possam ter.
O quarto imperativo, organizado ceticismo, implica que a ciência permite a análise isolada de crenças, que são ternamente detidas (embaladas) por outras instituições. Isto é, o que às vezes, coloca a ciência em conflito com religiões e outras ideologias.

Merton descreveu esses critérios como pertencentes à sociologia da ciência, e, assim como as declarações empíricas sobre as normas em ciência real, em vez de declarações normativas sobre como a ciência deve ser conduzida (Merton [1942] 1973, 268). Seus critérios foram muitas vezes rejeitados pelos sociólogos como simplistas, e eles só tiveram influência limitada em discussões filosóficas sobre a questão de demarcação (Dolby 1987; Ruse, 2000). O seu potencial no último contexto, não parece ter sido suficientemente explorado.

4.6 abordagens multi-criteriológicas

O método de demarcação de Popper consiste essencialmente, de um único critério de falseabilidade (embora alguns autores queiram combiná-lo com os critérios adicionais, os testes que são efetivamente realizados e seus resultados respeitados (positivos), ver a Secção 4.2). A maioria dos outros critérios discutidos acima são igualmente mono-criteriais, e é claro, a proposta de Merton, sendo uma grande exceção.

A maioria dos autores que propuseram critérios de delimitação, pelo contrário, apresentou uma lista de tais critérios. Um grande número de listas publicadas, que consistem em (normalmente 5-10) critérios que podem ser utilizados em combinação, para identificar uma ou mais pseudo práticas pseudocientificas. Isso inclui listas de Langmuir ([1953] 1989), Gruenberger (1964), holandês (1982), Bunge (1982), Radner e Radner (1982), Kitcher (1982, 30-54), Hansson (1983), Grove ( 1985), Thagard (1988), Glymour e Stalker (1990), Derkson (1993, 2001), Vollmer (1993), Ruse (1996, 300-306) e Mahner (2007). Muitos dos critérios que aparecem em tais listas se relacionam intimamente com os critérios acima discutidos nas seções 4.2 e 4.4. Tal lista é a seguinte:

A crença na autoridade: Argumenta-se que alguma pessoa ou pessoas, têm uma habilidade especial para determinar o que é verdadeiro ou falso. Os outros têm que aceitar seus julgamentos.

Experiências irrepetíveis : A confiança é colocada em experimentos que não podem ser repetidos por outros com o mesmo resultado.

Exemplos escolhidos a dedo: exemplos escolhidos a dedo são usados, embora eles não sejam representativos da categoria geral de que a investigação se refere.

Falta de vontade de teste: Uma teoria não é testada, embora seja possível testá-la.

Desconsideração da informação refutada : Observações ou experiências que entram em conflito com a teoria são negligenciados.

Subterfúgio embutido: O teste de uma teoria é de tal forma que, a teoria só pode ser confirmada, nunca refutada, com o resultado.

As explicações são abandonadas sem substituição. Explicações defensáveis são dadas acima, sem serem substituídas, de modo que, a nova teoria, deixa muito mais inexplicada, do que a anterior. (Hansson, 1983)

Alguns dos autores que propuseram demarcações multicriteriais, têm defendido esta abordagem, como sendo superior a qualquer demarcação mono-criterial. Por isso, Bunge (1982, 372) afirma que muitos filósofos não conseguiram fornecer uma definição adequada da ciência, uma vez que, já pressupunha que um único atributo vai, em sua opinião, possuir a necessária a combinação de vários critérios. Dupré (1993, 242) propôs que a ciência é mais bem entendida como: um conceito de semelhança familiar de Wittgenstein. Isto significa que, há um conjunto de características que são característicos da ciência, mas, nem toda  parte da ciência, terá algumas destas características, não devemos esperar que qualquer parte da ciência tenha todos eles.

No entanto, uma definição multicriterial da ciência não é necessária para justificar uma conta multicriterial de como a pseudociência desvia da ciência. Mesmo que a ciência possa ser caracterizada por uma única característica definidora, diferentes práticas pseudocientíficas podem desviar-se da ciência, de formas muito divergentes. Assim, a caracterização de sete itens, acima mencionada de pseudociência, foi proposta como representando sete maneiras comuns, para se desviar de um mínimo (necessário, mas não suficiente) critério da ciência, a saber: A ciência é uma busca sistemática de conhecimento, cuja validade não depende de determinado indivíduo, mas sim, é aberto para que todos possam verificar ou redescobrir.

5. Unidade na diversidade

Kuhn observou que, apesar de seus próprios critérios e os de  Popper, na demarcação, são profundamente diferentes, eles levam a essencialmente as mesmas conclusões, sobre o que deve ser considerado como ciência, e respectivamente como pseudociência (Kuhn 1974, 803). Esta convergência de critérios de delimitação teoricamente divergentes é um fenômeno bastante geral. Filósofos e outros teóricos da ciência diferem amplamente em suas opiniões sobre o que é ciência. No entanto, há praticamente unanimidade na comunidade de disciplinas de conhecimento, na maioria das questões particulares de demarcação. Existe um consenso generalizado, por exemplo, que o criacionismo, a astrologia, a homeopatia, a fotografia Kirlian, a radiestesia, a ufologia, a teoria do antigo astronauta, a negação do Holocausto, o catastrofismo Velikovsky, e a mudança climática, são delineados como pseudociências. Existem alguns pontos de controvérsia, por exemplo, sobre o estatuto da psicanálise freudiana, mas, o quadro geral é de consenso, em vez de controvérsia, em questões específicas de demarcação.

É em certo sentido paradoxal, sobre como foi alcançado tanto acordo, em questões específicas, apesar do desacordo quase total, sobre os critérios gerais que estas decisões deverão ser presumivelmente baseadas. Este quebra-cabeça é uma indicação segura de que ainda há muito trabalho filosófico importante a ser feito, sobre a demarcação entre ciência e pseudociência.

A reflexão filosófica sobre a pseudociência, tem trazido outras áreas problemáticas interessantes, além da demarcação entre ciência e pseudociência. Exemplos incluem demarcações relacionadas, tais como, entre ciência e religião, a relação entre a ciência e o conhecimento não-científico confiável (para conhecimento cotidiano por exemplo), a possibilidade de simplificações justificáveis, ​​em educação científica e da ciência popular, a natureza e a justificação do naturalismo metodológico na ciência (Boudry et al 2010), e o sentido ou de sentido, do conceito de um fenômeno sobrenatural. Várias dessas áreas problemáticas não receberam ainda, muita atenção filosófica.



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